Mal surgiu a notícia de que a Conmebol escolheu o Brasil como sede da Copa América, depois do cancelamento dos jogos na Colômbia e na Argentina, o prefeito Sebastião Melo correu a oferecer os estádios de Porto Alegre como sede da competição. O Rio Grande do Sul não estava no radar da Conmebol, mas pode entrar com a oferta de Melo, uma irresponsabilidade neste momento de agravamento da pandemia no Estado.
Ainda está em tempo de recuar, prefeito Melo. Poupe sua gente de aglomerações desnecessárias e incompatíveis com a situação de um Estado que está, hoje, com 86,1% dos leitos de UTI ocupados e vê a situação se agravar dia após dia. Não se trata de uma atividade essencial nem de um evento capaz de salvar a economia da Capital. O que ganharia a cidade oferecendo seus estádios para uma competição que o bom senso recomendaria fosse cancelada?
Ao repórter Carlos Rollsing, Melo disse que estava entrando em campo “com toda a força e toda responsabilidade”. E justificou:
— Porto Alegre é a capital do Mercosul, e nada melhor que seja aqui. Temos estrutura para isso e tradição.
Responsabilidade? Talvez o prefeito não esteja dando a devida atenção aos números que mostram o crescimento da ocupação de leitos clínicos e de UTI na Região Metropolitana. Será necessário um novo colapso para que o prefeito compreenda que, ao contrário do seu discurso, a situação não está sob controle?
O governador Eduardo Leite definiu a realização da Copa América no Brasil como algo “inoportuno e inconsequente diante do aumento do número de casos”. O governador se refere também ao elevado número de mortes — média de 2 mil por dia no país, cem delas no Rio Grande do Sul.
Com essa e outras atitudes, Melo passa a ideia de que a única fonte de contaminação são as festas clandestinas, como se as celebrações autorizadas — em clubes ou salões de condomínios — não oferecessem risco aos participantes.
Melo está alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, que abriu as portas do Brasil para a Conmebol. De Bolsonaro, negacionista assumido que se recusa até a usar máscara, não era de esse esperar algum sinal de responsabilidade. O presidente vive em um mundo paralelo e, já deixou claro, que, se dependesse dele, todas as restrições seriam levantadas.
Melo, ainda que muitas vezes aja como um negacionista e no início do mandato tenha até tentado fornecer cloroquina em postos de saúde, deveria ouvir os infectologistas antes de fazer essa proposta apressada à Conmebol.
No domingo, o Rio Grande do Sul chegou a 86% de ocupação de leitos de UTI. Em 24 horas, o número de internados com covid-19 subiu de 1.772 para 1.787 e o aumento nos últimos sete dias foi, em média, de um ponto percentual ao dia.
Com 478 leitos livres de UTI em todo o território gaúcho, a relação hoje está 0,27 leitos vagos para cada um ocupado nas UTIs covid. Nos leitos clínicos, a ocupação passou de 2.791 para 2.821 confirmados e a de suspeitos variou de 465 para 481. Na semana, acumula-se aumento de 330 confirmados e 45 suspeitos.
Na região que tem Porto Alegre como sede, a taxa acumulada de mortes por covid-19 é de 306,5 por 100 mil habitantes, bem superior à média do Rio Grande do Sul, de 247,5 por 100 mil. Pior do que a região de Porto Alegre, somente a de Canoas, com 336 e a de Capão da Canoa (Litoral), com 311,5.
Somente na Capital, a taxa de mortalidade é de 321,4 por 100 mil habitantes. No Brasil, esse número é de 219,8.
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