Na entrevista que deu ao programa Gaúcha Atualidade, o senador Omar Aziz (PSD-AM), futuro presidente da CPI da Covid, foi categórico: não há hipótese de a investigação terminar em pizza, kibe ou esfiha, referência a suas origens — ele é filho de pai árabe e mãe italiana. Traduzindo, significa que haverá responsabilização de quem errou por ação e omissão no enfrentamento à pandemia.
Antes de assumir a presidência, o senador terá de corrigir um erro que vem repetindo nas entrevistas em relação às datas, quando diz que em outubro e novembro de 2019 já se sabia que um novo coronavírus circulava na China e se espalharia pelos continentes.
O mundo só tomou conhecimento da gravidade do vírus em janeiro, quando a China isolou a província de Wuhan e construiu hospitais em sete dias para atender à necessidade de internações. Apenas em março a ONU declarou status de pandemia.
Aziz diz que as autoridades brasileiras nada fizeram no início para evitar a circulação do vírus. De fato, apesar de um protocolo rígido estabelecido para a repatriação dos brasileiros trazidos de Wuhan, e que valeria para outros casos, nenhuma medida foi adotada nos aeroportos. Os primeiros pacientes tinham vindo do Exterior, sobretudo da Itália e dos Estados Unidos, ou tido contato com viajantes. Não foi diferente em Manaus, terra de Aziz, onde, segundo ele, os primeiros infectados entraram pelo aeroporto, depois de passar férias em Miami e Los Angeles.
Esse histórico que o senador faz do início da pandemia, com algumas imprecisões de datas, é só o ponto de partida da CPI, que começará ouvindo o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, demitido em abril pelo presidente Jair Bolsonaro, e integrantes da sua equipe técnica.
Na entrevista, Aziz respondeu no que a CPI pode avançar, se todos os fatos são públicos e estão fartamente documentados. Disse que a comissão descerá algumas camadas abaixo da superfície e adiantou alguns pontos que serão aprofundados: por que o governo não aceitou a oferta da Pfizer, feita no ano passado, de fornecer 80 milhões de doses da sua vacina, a propaganda de medicamentos sem eficácia, os erros do ministro Eduardo Pazuello em Manaus, a promoção de aglomerações, o desrespeito ao distanciamento social e outros equívocos patrocinados pelo governo.
Prefeitos e governadores entrarão na investigação pelo caminho dos recursos federais destinados ao combate à pandemia. Não se trata do dinheiro destinado a compensar as perdas de arrecadação, mas o carimbado para a saúde. A tática do Palácio do Planalto será embaralhar as cartas para tirar o foco do governo federal com a alegação de que ficou engessado pelas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu autonomia a prefeitos e governadores para adotar restrições criticadas por Bolsonaro.
Ao fim dos trabalhos, garantiu Aziz, quem teve culpa comprovada será responsabilizado. O discurso é o mesmo do senador Renan Calheiros, provável relator. Dependendo do quanto se abrir o leque da investigação, será necessário prorrogar os trabalhos e os ecos da CPI estarão presentes na campanha eleitoral de 2022.