Na entrevista que deu ao Gaúcha Atualidade na manhã desta sexta-feira (16), o vice-presidente Hamilton Mourão usou uma expressão batida para expressar a preocupação com a CPI da Covid, que deverá ter como relator o senador Renan Calheiros (MDB-AL), uma das maiores raposas do Congresso:
— O problema da CPI é que a gente sabe quando começa, mas nunca sabe como termina.
Ninguém é ingênuo para acreditar que existe CPI técnica. As CPIs são políticas, tanto quanto os processos de impeachment. Para a abrir uma CPI basta reunir o número necessário de assinaturas e indicar um objeto de investigação. A da Pandemia cumpre esses requisitos e já tem indicados para presidente (Omar Aziz, do PSD do Amazonas), vice (Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá) e relator, o velho Calheiros que o Brasil conhece desde o governo Fernando Collor.
Aziz é aliado do Planalto. Randolfe adversário ferrenho e autor do pedido de CPI. Calheiros vem de um período de mais de dois anos ostracismo, depois de ter sido barrado na tentativa de voltar à presidência do Senado em 2019, numa articulação que envolveu o Palácio do Planalto e resultou na eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP). É o inimigo que ninguém gostaria de ter.
Em suas primeiras manifestações depois de ser indicado relator, Calheiros posou de bom moço, com aquela conversa fiada de “CPI técnica”, mas mandou recados ao Planalto.
— Se o governo intervir na CPI, o tiro vai sair pela culatra. Ele próprio acaba ajudando a politizar a investigação. Piora as coisas. Com isso, todos os governos perdem. E acho que esse governo precisa encontrar uma maneira de conviver com essa investigação — disse numa entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Em outra, ao jornal O Globo, avaliou como terrível o desempenho de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia:
— Minha opinião é que a gestão do Bolsonaro foi terrível no enfrentamento à pandemia. Ele complicou tudo. Complicou porque errou, se omitiu e minimizou a doença. Prescreveu remédios sem comprovação científica, estimulou aglomeração, não usou máscara. Priorizou o tratamento preventivo. É um somatório. Estamos pagando esse preço em mortes. Mas isso é só uma avaliação pessoal. Defendo uma CPI técnica, que arregimente boas cabeças da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do Tribunal de Contas da União. Defenderei uma investigação rigorosamente técnica, sem partidarismo e sem alvos pré-determinados.
A rigor, não é necessária uma CPI para investigar o que Bolsonaro fez ou deixou de fazer. Tudo é público e documentado por vídeos, áudios, textos e depoimentos desencontrados. O que a CPI faz é dar holofote para os depoimentos, contextualizar a situação e produzir um relatório que pode ou não embasar um pedido de impeachment.
Aliás
A especialidade dos governos (de esquerda, centro e direita) é embaralhar as cartas para tentar melar as CPIs. Os movimentos para que esta também termine em pizza já começaram.