Foi uma vitória incontestável a de Arthur Lira (PP-AL) na eleição para a presidência da Câmara: 302 votos contra 145 de Baleia Rossi (MDB-SP) significam muito mais do que os 257 necessários para vencer no primeiro turno. Os demais candidatos só fizeram figuração e não foram capazes de fazer mover o ponteiro da disputa.
No lado dos vitoriosos estão o presidente Jair Bolsonaro e o centrão, esse aglomerado que existe deste o governo de José Sarney e dá as cartas. O grande derrotado no processo é o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se despediu a presidência da Câmara chorando, antes de conhecer o resultado oficial.
A eleição na Câmara abriu a caixa de Pandora do clientelismo e do fisiologismo. Nada inédito: o centrão, do qual Lira é um dos expoentes, joga este jogo desde os anos 1980, mas dobra a aposta quando os governos são fracos.
Para eleger Lira, o governo entrou na barganha. Liberou recursos de emendas parlamentares, prometeu ministérios e cargos que agora terá de entregar. Em troca, o presidente pode dormir com a certeza de que terá um aliado na Mesa da Câmara, seja para frear um eventual processo de impeachment, seja para fazer andar os projetos de interesse do governo.
No primeiro discurso depois de eleito, Lira falou mais para os seus pares do que para o país. Embora tenha mencionado a pandemia, pedido um minuto de silêncio pelas vítimas do coronavírus e feito a defesa das reformas, o novo presidente tentou mostrar que será diferente do antecessor. Prometeu neutralidade e diálogo com todos os partidos, mas seu primeiro ato foi uma espécie de vingança: dissolve o bloco parlamentar que apoiava seu adversário, Baleia Rossi, e anunciou para esta terça-feira nova eleição para os demais cargos da Mesa, com distribuição proporcional à representação.
Aliás
Com a vitória de Arthur Lira, o deputado Covatti Filho, coordenador de sua campanha no Rio Grande do Sul, deve deixar a Secretaria da Agricultura e retornar de vez para Brasília.