O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anulou, na noite desta segunda-feira (1º), a formação do bloco de apoio ao candidato derrotado Baleia Rossi (MDB-SP), devido a um atraso de seis minutos no registro dos apoios de PT, PSB e PDT. Com isso, o acordo de líderes que decidia os cargos da Mesa Diretora da Câmara pelo critério da proporcionalidade foi anulado, e uma nova eleição ocorrerá na terça-feira (2) com novos registros de candidaturas.
— O então presidente da Câmara reconheceu, de forma monocrática, a formação do bloco apesar da evidente intempestividade e contaminou de forma insanável atos do pleito como o cálculo da proporcionalidade e a escolha dos cargos da Mesa — disse Lira no seu discurso.
A fato havia sido objeto de uma discussão entre Lira e o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no início da tarde. Foi o primeiro ato de Lira no comando da Casa Legislativa.
A discussão da tarde
Tudo começou quando o PT alegou problemas técnicos para registrar apoio a Baleia Rossi e, por isso, teria perdido o prazo, que se encerrava às 12h. Diante das dificuldades, Maia convocou reunião de líderes para permitir o registro do bloco. Alguns líderes do bloco de Baleia relembraram que o mesmo problema técnico teria ocorrido há dois anos e impediu o PDT de ficar com cargos na Mesa Diretora.
A decisão final sobre reconhecer o registro do bloco cabia apenas a Maia, como presidente da Casa. A reunião já começou tensa, com Maia e Lira gritando um com o outro. Lira disse ter consultado o diretor técnico da Casa, que teria informado não haver problema nenhum no sistema e que todos os outros partidos conseguiram fazer o registro no prazo.
— É só uma questão de coerência temporal — disse Lira, segundo parlamentares presentes à reunião.
Diante dos protestos de Lira, Maia respondeu:
— Eu sou presidente da Câmara hoje. Eu decido. Amanhã você pode decidir.
Irritado, Lira bateu a mão na mesa.
— Vossa excelência está atropelando — disse ele.
Maia cobrou respeito:
— Você não está em Alagoas, não bata na mesa.
Lira, por sua vez, manteve o tom:
— E você não está no morro do Rio de Janeiro.
A líder do PCdoB na Casa, Perpétua Almeida (AC), disse que o não reconhecimento do bloco de Baleia era uma tentativa de Lira de levar todos os cargos da mesa no "tapetão".
— Todo mundo sabe quais são os blocos — disse a deputada.
Apoiadora de Lira, a deputada Soraya Santos (PSL-RJ) citou um relatório interno da Casa e afirmou que o bloco de Baleia somente tentou fazer o registro às 13h10min.
— Ninguém quer tirar cargo da mesa no tapetão, mas a lei não atende aos que dormem — afirmou.
Maia disse que a decisão já estava tomada.
— Não vou mudar, nenhum debate vai mudar. Não há recurso — afirmou Maia.
Em seguida, ele começou a distribuir os cargos da Mesa Diretora de acordo com os blocos. Como são os maiores partidos da Casa, Maia deu a primeira escolha caberia ao PSL, e a segunda, ao PT.
Lira continuou os protestos.
— Se você quiser fazer a eleição em outro dia é só dizer, porque assim não vai ter eleição — afirmou.
Maia disse então que Lira havia prometido "o que não tinha para entregar", em referência aos cargos da Mesa, que não ficariam mais apenas com o bloco de Lira. Lira respondeu:
— Não sou você, não.
Foi quando os líderes pró-Lira decidiram deixar a reunião, em protesto.
— Ninguém vai ficar nessa bagunça — disse o líder do PL, Wellington Roberto (PB), acompanhado de Marcos Pereira (Republicanos-SP). Lira reagiu:
— Você é o valentão, o dono do Brasil — afirmou a Maia.