A reunião de líderes da Câmara dos Deputados começou nesta segunda-feira (1º) com bate-boca e troca de ofensas entre o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o candidato ao posto Arthur Lira (PP-AL), segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Político.
O clima esquentou porque Maia defende haver o registro de blocos em favor de Baleia Rossi (MDB-SP), seu candidato, enquanto vários outros parlamentares contestam a oficialização do apoio.
Lira chegou a dizer que Maia estava "atropelando" e Maia rebateu:
— Sou presidente da Câmara hoje, eu decido. Amanhã você pode decidir.
Um dos parlamentares que não reconhecem o registro do bloco de apoio a Baleia, Marcelo Ramos (PL-AM) disse que Maia se acha acima do regimento e que quer impor a vontade dele.
— Tem de valer o que está no sistema. Acho que Maia perdeu a mão — afirmou.
Ramos ainda disse que não existe bloco porque registraram fora do prazo. A reunião de líderes faz parte do rito da eleição e tem o objetivo de decidir os candidatos para cada um dos cargos da Mesa Diretora da Casa, que são 10, além do presidente.
A discussão
Tudo começou quando o PT alegou problemas técnicos para registrar apoio a Baleia Rossi e, por isso, teria perdido o prazo, que se encerrava às 12h. Diante das dificuldades, Maia convocou reunião de líderes para permitir o registro do bloco. Alguns líderes do bloco de Baleia relembraram que o mesmo problema técnico teria ocorrido há dois anos e impediu o PDT de ficar com cargos na Mesa Diretora.
A decisão final sobre reconhecer o registro do bloco cabia apenas a Maia, como presidente da Casa. A reunião já começou tensa, com Maia e Lira gritando um com o outro. Lira disse ter consultado o diretor técnico da Casa, que teria informado não haver problema nenhum no sistema e que todos os outros partidos conseguiram fazer o registro no prazo - Rede, PV, PCdoB, Cidadania, PDT, MDB, PSDB, Solidariedade e PSB.
— É só uma questão de coerência temporal. Todos cumpriram o prazo, menos o PT — disse Lira, segundo parlamentares presentes à reunião. Diante dos protestos de Lira, Maia respondeu:
— Eu sou presidente da Câmara hoje. Eu decido. Amanhã você pode decidir.
Irritado, Lira bateu a mão na mesa.
— Vossa excelência está atropelando — disse ele. Maia cobrou respeito:
— Você não está em Alagoas, não bata na mesa.
Lira, por sua vez, manteve o tom:
— E você não está no morro do Rio de Janeiro.
A líder do PCdoB na Casa, Perpétua Almeida (AC), disse que o não reconhecimento do bloco de Baleia era uma tentativa de Lira de levar todos os cargos da mesa no "tapetão".
— Todo mundo sabe quais são os blocos — disse a deputada.
Apoiadora de Lira, a deputada Soraya Santos (PSL-RJ) citou um relatório interno da Casa e afirmou que o bloco de Baleia somente tentou fazer o registro às 13h10.
— Ninguém quer tirar cargo da mesa no tapetão, mas a lei não atende aos que dormem — afirmou.
Maia disse que a decisão já estava tomada.
— Não vou mudar, nenhum debate vai mudar. Não há recurso — afirmou Maia.
Em seguida, ele começou a distribuir os cargos da Mesa Diretora de acordo com os blocos. Como são os maiores partidos da Casa, Maia deu a primeira escolha caberia ao PSL, e a segunda, ao PT.
Lira continuou os protestos.
— Se você quiser fazer a eleição em outro dia é só dizer, porque assim não vai ter eleição — afirmou.
Maia disse então que Lira havia prometido "o que não tinha para entregar", em referência aos cargos da Mesa, que não ficariam mais apenas com o bloco de Lira. Lira respondeu:
— Não sou você, não.
Foi quando os líderes pró-Lira decidiram deixar a reunião, em protesto.
— Ninguém vai ficar nessa bagunça — disse o líder do PL, Wellington Roberto (PB), acompanhado de Marcos Pereira (Republicanos-SP). Lira reagiu:
— Você é o valentão, o dono do Brasil — afirmou a Maia.
Não vamos complicar uma eleição já ganha. O que aconteceu hoje mostra que todos precisam ter voz
O líder do PSL, Felipe Francischini (PR), levantou a possibilidade de a eleição na Câmara terminar na Justiça. Mas passados alguns minutos, Lira e os líderes que o apoiam decidiram voltar para a reunião.
— Não vamos complicar uma eleição já ganha — disse Lira. — O que aconteceu hoje mostra que todos precisam ter voz.
Ao fim da discussão, o bloco de Baleia Rossi conseguiu fazer o registro com dez partidos, incluindo PT, que alegou problemas técnicos, além do PSDB e do Solidariedade, que cogitaram ficar neutros na disputa.