Ainda que não tenha dito com todas as letras, quem conhece o prefeito Nelson Marchezan não tem dúvida de qual será sua estratégia para tentar escapar do impeachment: o recurso à Justiça, com a alegação de que teve a defesa cerceada pelos vereadores. Para conquistar a opinião pública, a tática é partir para o ataque, relembrar episódios de corrupção e desqualificar os acusadores, acusando-os de trabalhar pelo retorno de práticas superadas.
Como sabe que no plenário da Câmara sua causa já está perdida, o prefeito segue queimando as pontes com antigos aliados que votaram pela abertura do processo e que tendem a aprovar a cassação de seu mandato. Diz que não cederá a chantagens nem a ameaças, mesmo que isso lhe custe o mandato e o direito de concorrer à reeleição. Essa estratégia ficou clara na primeira manifestação após a decisão da comissão processante de dar seguimento ao processo.
O placar de 2 a 1 era pedra cantada. Além de dois dos três integrantes da comissão serem de oposição, o presidente Hamilton Sossmeier (PTB) já tinha definido seu voto antes de ler o relatório. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, antes da apresentação do parecer, Sossmeier reconheceu que não lera a defesa do prefeito, adiantou que votaria com o relator Alvoni Medina (Republicanos) e falou de prazos com a segurança de quem tem já tinha a rota traçada. Essa entrevista, citada pelo prefeito na manifestação do final da tarde de sexta-feira (28), deve encorpar o processo judicial, mas não é a base da ação.
Embora diga que ainda precisa definir os próximos passos com seu advogado, Marchezan reclama da decisão da comissão processante de reduzir o número de testemunhas de 29 para 10, de não ter pedido documentos da Justiça, do Ministério Público e do Tribunal de Contas, indicados na defesa, e de não ter sequer permitido que o advogado se manifestasse. Além disso, o material da defesa não foi digitalizado nem compartilhado com os demais integrantes da comissão.
Marchezan critica ainda de mudanças no rito, sem que consiga saber qual será o adotado, e até da dificuldade de seu advogado anexar documentos porque a Câmara não informa sequer o horário correto de funcionamento do protocolo.
A tática de atacar vereadores envolvidos direta ou indiretamente em escândalos pode até ser um gol contra na Câmara, porque não vira votos, mas faz parte da defesa política.
Claramente, o que Marchezan quer é constranger os vereadores e reforçar no eleitor a percepção de que está sendo vítima de um complô cujo objetivo é tirá-lo da prefeitura e da próxima eleição. Não por acaso, citou mais de uma vez os prazos que estão em jogo: falta um mês para o início da campanha, menos de três para a eleição e pouco mais de quatro para o término do seu mandato.