Elogiado dentro e fora do Brasil, o modelo de distanciamento controlado do Rio Grande do Sul corre o risco de virar lenda se os prefeitos não souberem usar a liberdade que está sendo dada pelo governador Eduardo Leite. O decreto publicado domingo e detalhado nesta quinta-feira (4) pelo governador permite que os prefeitos de municípios classificados como de bandeira amarela e laranja abrandem as restrições a seu critério. No momento, todos os 497 municípios do Estado estão com bandeira amarela ou laranja, que significam restrições brandas e médias.
Apresentada como uma demonstração de respeito à autonomia dos municípios, a liberação abre caminho para que o alardeado embasamento científico seja substituído pelo achismo e pela opção política. Como o Rio Grande do Sul tem 497 municípios e diferentes graus de compreensão, entre os prefeitos, sobre a necessidade de distanciamento, o Piratini flerta com o perigo.
A obrigação das prefeituras que quiserem ir além do permitido para cada bandeira é definir protocolos próprios e encaminhar ao governo do Estado um plano municipal de enfrentamento à covid-19. O plano deverá conter as regras e as justificativas para a mudança, mas entrará em vigor sem necessidade de aprovação pelo governo do Estado.
O Piratini recomenda que sejam estruturados com base em evidências científicas. Pressionados pelos setores que querem a retomada das atividades em geral, os prefeitos terão dificuldade para manter restrições a atividades não essenciais, sejam econômicas, religiosas ou de lazer.
A situação relativamente controlada no Rio Grande do Sul passa, para boa parte da população, a ideia de que o pior já passou e que não há motivo para manter o distanciamento.