O que Wuhan, a cidade chinesa de 11 milhões de habitantes onde foi registrado o maior número de casos do devastador coronavírus tem a ver com os gaúchos? Wuhan é a capital da província de Hubei, cidade irmã do Rio Grande do Sul. Estive duas vezes nessa simpática metrópole, cobrindo as visitas dos então governadores Germano Rigotto, em 2004, e Tarso Genro, em 2013. Entre uma viagem e outra, Wuhan ganhou 1 milhão de habitantes a mais. Cresceu o equivalente a uma Porto Alegre, com a política do governo chinês de estímulo à migração para as cidades industrializadas.
Para quem esteve lá é difícil imaginar uma cidade daquele tamanho isolada, com transporte público semiparalisado, viagens suspensas de trem, barco e avião. Imagine uma São Paulo asiática em quarentena.
Ao tomar conhecimento do problema na província de Hubei, Rigotto lembrou detalhes daquela visita histórica. Antes dele, o último governador a pisar na China tinha sido Amaral de Souza.
Quando visitou Wuhan em junho de 2004, Rigotto ficou encantado com a gentileza dos chineses. Um ato em especial ficou na memória do governador e de quem o acompanhou naquela visita: a execução do Hino Rio-grandense em um carrilhão de sinos, no Museu Provincial. As peças são réplicas de sinos de mais de 2 mil anos, encontrados em 1978 na tumba de um marquês. Também chamou a atenção o Parque Tecnológico do Lago Leste, uma incubadora de empresas de alta tecnologia.
Como todos os governantes que visitam Hubei, Rigotto visitou a Torre Amarela, um templo construído no ano 223 depois de Cristo, destruído e reconstruído incontáveis vezes, de onde se tinha uma vista espetacular da paisagem às margens do rio Yangtze.
Nove anos depois, quando Tarso desembarcou em Wuhan, encontrei uma cidade muito diferente daquela de 2004, com edifícios modernos e condomínios verticais habitados por milhares de pessoas. O Parque Tecnológico do Lago Leste crescera tanto que em nada lembrava o de 2004. O lago de águas límpidas lembrava o Guaíba, pelo nível de degradação. Da Torre Amarela, pouco se podia ver da cidade encoberta pela poluição. O governador visitou o novo porto de Wuhan, no Yangtze, também tomado por dejetos.
Daquela viagem, Tarso lembra dos avanços tecnológicos que testemunhou, das pessoas usando máscaras para se proteger da poluição e dos planos grandiosos das autoridades para recuperar o ambiente degradado pelo crescimento econômico a qualquer custo.
— À época, os chineses já se davam conta de que o progresso econômico que tirou milhões da pobreza seria perdido se não investissem pesado na despoluição. O que aconteceu na China foi o mesmo que ocorreu em outros países que experimentaram ciclos rápidos de crescimento, como a Inglaterra e os Estados Unidos na Revolução Industrial.