Uma cidade interditada e temerosa. A metrópole de Wuhan, situada na China central com 11 milhões de habitantes, é considerada o local de origem do novo coronavírus - que já provocou 17 mortes no país - e se isola do mundo com objetivo de conter uma epidemia.
A grande maioria dos 440 casos de contaminação deste novo vírus, que pertence a mesma família da SARS, foram registrados nessa cidade construída às margens do rio Yangtsé.
A epidemia foi detectada pela primeira vez no último mês, em um mercado de frutos do mar localizado na cidade. Desde então, 17 pessoas morreram e os cientistas temem uma possível mutação e propagação desenfreada do vírus.
Desde então, nas estações de trem da China, a maior parte das pessoas utiliza máscaras. Nos aeroportos do país, medidas de controle estão sendo adotadas, como a medição da temperatura corporal nas entradas e instalação de detectores de febre.
Após terem ignorado a doença por semanas, nos últimos dias os habitantes de Wuhan começaram a usar máscaras de proteção, como contaram por telefone vários moradores do local à AFP.
— O medo realmente aumentou desde que informaram que o contágio acontece de forma direta entre pessoas — relata Melissa Santos, uma estudante dominicana que vive em Wuhan há pouco mais de dois anos.
Em um primeiro momento, as autoridades afirmaram que o vírus parecia ser transmitido apenas de animais para o ser humano, e que não havia contaminação entre humanos.
Charly Bonnassie, um estudante francês que embarcou em um trem vindo de Wuhan, contou que "100% dos passageiros e dos funcionários" usavam máscaras.
— Não há mais máscaras disponíveis nas farmácias, todas sumiram — disse Vincent Lemarié, um professor de francês que leciona na Universidade de Hubei, a província de Wuhan.
Atenção nos aeroportos
As autoridades se preocupam pelo risco de contaminação a poucos dias de um grande feriado local, quando milhões de chineses viajarão.
— Caso não seja necessário, aconselhamos que não venham a Wuhan — informou o prefeito da cidade, Zu Xianwang, em comunicado veiculado na televisão.
Em uma coletiva de imprensa em Pequim, o vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Li Bin, sugeriu que os moradores não saíssem da cidade.
Detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle, e para sair da cidade o transporte não pode ser feito de carro.
A polícia também controla a presença de animais selvagens e aves nos veículos que entram e saem da cidade.
No mercado onde surgiu a epidemia eram vendidos animais selvagens, comentou nesta quarta-feira (22) o diretor do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças, Gao Fu. Ele não informou, no entanto, se esses animais seriam a origem da infecção.
O local de comércio, principalmente voltado para a pesca, mantém uma seleção variada de mercadorias, como lobos e civetas, segundo informações divulgadas pela mídia chinesa.
Circula nas redes sociais chinesas uma lista de preços contendo vários animais e produtos variados, como: raposas, crocodilos, lobos, salamandras gigantes, cobras, ratos, pavões e porco-espinho, podendo chegar a 112 tipos de animais.
— Recém-cortados, congelados e entregues em sua casa — podia-se ler no cartaz.
Sem festividades
Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações previstas para o feriado, no qual é comemorado o Ano Novo chinês, marcado para o próximo 25 de janeiro.
O famoso templo budista Guiyuan, que no último ano reuniu um público de 700 mil pessoas para a ocasião, teve que cancelar ao evento.
Cerca de 30 mil pessoas já tinham reservado os seus ingressos e outros 200 mil foram distribuídos de forma gratuita.
As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam o museu.
O prefeito, criticado por ter organizado no último final de semana um banquete no qual recebeu 40 mil famílias, teve que explicar que desconhecia o tamanho da epidemia.
— As pessoas estão um pouco preocupadas — diz Melissa Santos.
— Um amigo que tinha me convidado para passar o Ano Novo com ele em outra cidade da província de Hubei preferiu cancelar a festa — explica.
— Ele tem medo de se contaminar. Particularmente, eu também prefiro cancelar minha viagem para evitar encontrar com pessoas infectadas no trem —acrescenta.
* AFP