Nunca antes na história do Rio Grande do Sul um governador conseguiu aprovar um pacote com reformas tão profundas quanto Eduardo Leite em 13 meses de governo. Antes dele, Antônio Britto (1995-1998) e José Ivo Sartori (2015-2018) foram os que chegaram mais perto em matéria de quebra de tabus e paradigmas.
Com a oposição raquítica, Britto aprovou as primeiras privatizações de estatais, extinguiu órgãos públicos e alterou a forma indecente como servidores incorporavam funções gratificadas. Sartori instituiu o teto do INSS como limite para as aposentadorias públicas e criou a previdência complementar para quem quisesse ganhar mais.
Leite começou a construir o clima para a aprovação de medidas duras assim que foi eleito. Não esperou o MDB curar as feridas da derrota e convidou o partido a integrar o governo. Montou uma base de 40 deputados, até por saber que em cada votação sempre há defecções, e vem contando com os dois parlamentares do Novo, que emprestam apoio por convicção, sem ocupar cargos.
Desde a campanha eleitoral, Leite elegeu a reforma do Estado como prioridade. Eleito, foi buscar no Distrito Federal a secretária de Planejamento, Leany Lemos, uma técnica com experiência na complexa montagem de uma reforma administrativa. Coube a ela a tarefa de comandar a minúscula equipe encarregada de formatar as propostas que o governador sabia impopulares.
O segredo era essencial para não matar os projetos no nascedouro. Leite fez questão de acompanhar passo a passo a tarefa que começou pelo levantamento de dados que o próprio governo ignorava.
Antes de desenhar os projetos era preciso estudar todo o emaranhado legal, atividade na qual a secretária e sua equipe mergulharam no primeiro semestre de 2019. O procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa consumiu dias e noites dando forma jurídica aos projetos.
Apresentadas as propostas, que no início chocaram os próprios aliados, chegou a hora da costura política. De novo, Leite assumiu o protagonismo, explicando pessoalmente a deputados e dirigentes sindicais a lógica das medidas. Escalou o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, e o líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes, para fazerem o meio de campo entre os deputados e os técnicos.
O Piratini teve de ceder em vários pontos, mas conseguiu aprovar mudanças radicais nas carreiras dos servidores. A maioria dos projetos passou com folga, mas o governo retirou – para não ser derrotado –o que alterava a contribuição previdenciária de brigadianos e bombeiros.
Aliás
Parte das vitórias de Eduardo Leite na Assembleia deve ser creditada a seu antecessor. José Ivo Sartori criou o ambiente para a discussão de temas antes considerados tabus, como a privatização das estatais de energia. Não teve apoio para realizar o plebiscito, mas Leite acabou aprovando o fim da exigência de consulta à população para vender a CEEE, a Sulgás e a CRM.