Aprovado com o voto favorável de 32 dos 55 deputados, o novo plano de carreira dos professores estaduais está longe de ser o ideal, mas não é o bicho-de-sete-cabeças pintado pela oposição e pela ala mais radical do Cpers. Para avaliar com serenidade o que vai acontecer na prática é preciso começar separando a realidade da fantasia.
A realidade é que o atual plano só era uma miragem. Servia apenas como referência, porque nenhum governador pagou o piso como básico da carreira, sonho de 10 entre 10 professores. Desde 2012, quando o governador Tarso Genro assinou o Termo de Ajustamento de Conduta se comprometendo a pagar um completivo para que ninguém ganhasse menos do que o piso, o plano vem se achatando.
Na prática, as diferenças entre níveis e classes deixaram de existir com o completivo, a ponto de um professor com formação superior ganhar o mesmo que um colega que só tem o Normal (Ensino Médio).
O novo plano garante, para o futuro a preservação da diferença entre as 36 faixas. Significa que, a cada aumento do piso nacional, todos terão reajuste na parcela que corresponde ao subsídio. As vantagens incorporadas, sejam gratificações ou adicionais de tempo de serviço, serão pagas como parcela autônoma. Essa, sim, ficará congelada.
Com o aumento do abono família, de R$ 44 para R$ 120, professores com salários menores, que têm filhos, terão ganho real já neste ano.
O projeto original, modificado pela força da negociação, condenava os mais antigos ao congelamento eterno. Com razão, a presidente do Cpers, Helenir Schürer dizia que os futuros reajustes seriam pagos pelos próprios professores.
Se a proposta avançou foi, em boa parte, porque Helenir teve maturidade e aceitou conversar com os deputados do MDB, em vez de ficar apenas discursando contra.
A presidente do Cpers conseguiu uma meia vitória. Pior seria uma derrota inteira.
Antigos dirigentes do Cpers que trataram Helenir como traidora e a chamaram de “pelega” por dialogar com deputados da base do governo não têm, no currículo, conquistas a celebrar. Não conseguiram garantir o pagamento do piso e saíram de sucessivas greves de mãos vazias.
Aliás
Sem as amarras do efeito cascata do plano antigo, os professores podem voltar a sonhar com reajustes e promoções. Para que a carreira volte a ser atraente, o governo precisa retomar os pagamentos em dia e valorizar, com ações concretas, quem está na sala de aula.