Vinte e quatro horas depois do temporal que atingiu Porto Alegre e castigou particularmente a Zona Sul, 95 mil clientes seguiam sem energia elétrica na Região Metropolitana. No pior momento, eram 300 mil, pelos cálculos da CEEE, mas os prejuízos são imensuráveis para quem passou a noite e o dia à espera da volta da luz e viu chegar a segunda noite sem perspectiva de solução.
É verdade que a ventania foi atípica e que a rajada causadora dos maiores estragos atingiu a velocidade de 100 quilômetros por hora, mas não há justificativa aceitável para a demora no restabelecimento do serviço.
A falta de energia durante a primeira noite era, de certa forma, compreensível. Antes de começar o conserto, os técnicos precisavam ter o diagnóstico dos estragos e eliminar as situações de risco aos moradores e às equipes responsáveis pelo conserto.
Não há como manter, nos 365 dias do ano, equipes de prontidão para solucionar em poucas horas os estragos de um temporal como o da quarta-feira. Passadas 24 horas, a demora torna-se injustificável. O atraso deve ser debitado na conta do sucateamento da CEEE, uma empresa que sequer consegue pagar em dia o ICMS que cobra do consumidor. Mas não é só isso.
Problemas como o desta semana não ocorreriam se a rede fosse subterrânea. Tão cedo, não será. Enterrar fios custa caro. Nenhuma concessionária o fará contando que, no futuro, economizará com os consertos. Para acabar com as redes aéreas, suscetíveis a qualquer vento mais forte, será preciso investir bilhões. Os clientes estão dispostos a pagar?
A CEEE será privatizada neste ano, mas, isso não significa que o serviço vai melhorar em um passo de mágica. Para que melhore, o Estado terá de fiscalizar. Afinal, trata-se de uma concessão de serviço público.
Aliás
Além dos problemas naturais da rede elétrica aérea, Porto Alegre sofre com os temporais porque a fiscalização do emaranhado de fios é deficiente. Para piorar, 75% dos postes ainda são de madeira e a poda de árvores sob a rede não é feita de maneira adequada.