O cenário é sempre o mesmo: árvores caídas, postes derrubados, sinaleiras apagadas. Transtornos de todo o tipo, resultantes de problemas antigos que, neste verão, pareciam ter menos probabilidade de ocorrer. Isso porque nunca se investiu tanto na poda e corte de vegetais em Porto Alegre – os serviços quadruplicaram em 2019. Os impactos do temporal de quarta-feira (15), entretanto, foram atribuídos pelo diretor da CEEE, Giovani Francisco da Silva, à "grande arborização da Capital".
– Todos os defeitos foram causados por vegetais que derrubaram nossas redes – afirmou o diretor durante entrevista à Rádio Gaúcha nesta quinta-feira (16), enfatizando que a situação seria diferente se a fiação da cidade fosse subterrânea. – Não teríamos quase nada de problemas.
Questionado sobre a posição da concessionária, o secretário de Serviços Urbanos da prefeitura de Porto Alegre, Ramiro Rosário, associou o alto número de árvores caídas (mais de 50), à intensidade do vento, que chegou a 100 km/h, e derrubou "até mesmo árvores saudáveis". Segundo ele, a prefeitura não é a única responsável pelo manejo arbóreo na cidade, já que a CEEE também tem licença e equipes contratadas para a manutenção de vegetais.
– Não é jogo de empurra, mas certas intervenções nem podem ser realizadas pelas equipes da prefeitura – afirmou.
Na avaliação do secretário, a alternativa de enterrar a fiação "é o futuro", mas demandaria "investimento pesado".
– A prefeitura não pode colocar a fiação para baixo por conta própria. É uma responsabilidade que vem da própria concessionária, e por mais que se tenha ganho positivo a consumidores e cidadãos, não é barato enterrar fios.
Segundo o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), Tiago Holzmann da Silva, a implantação de uma rede subterrânea de fato tem custo alto, mas exclui a necessidade de reparos na fiação após temporais – comuns quando a rede é aérea.
– Isso precisa entrar na conta. Gera economia a longo prazo, uma paisagem mais bonita e menor necessidade de poda de árvores.
Na opinião de Tamaris Pivatto, membro da diretoria do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a fiação subterrânea melhoraria a questão paisagística e transtornos decorrentes de fenômenos naturais, mas sua implantação poderia ser inviável em virtude de um mapeamento subterrâneo defasado.
– O plano diretor já não é respeitado, imagina nosso subsolo. É uma bagunça, está desorganizado e é complicado de mexer. Como o mapeamento é antigo, redes como água, esgoto e telefonia não têm uma organização efetiva.