A imagem de galhos amontoados na via e de um tronco lotando a caçamba do caminhão impressionou quem passava pela Rua da República na tarde desta terça-feira (24). Uma equipe terceirizada pela prefeitura de Porto Alegre havia recém cortado, pelo pé, uma tipuana que atingia a altura da cruz da igreja ao lado, o Santuário Santo Antônio do Pão dos Pobres. Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, ela corria risco de queda. Na sequência, os funcionários realizariam a poda de outros vegetais da via.
Passeando com o cachorro pela região, o artista visual Leandro Alves, 32 anos, relatou acreditar que a intervenção era necessária. Mas ponderou:
— Só acho que tinham que fazer manutenção antes, para prevenir que chegue nesse ponto.
Os cortes de árvores se intensificaram na Capital nos últimos meses. Isso acontece porque, desde o ano passado, há novamente equipes para isso — passaram de sete para 15. O Executivo estava sem contrato terceirizado para podas e supressões de vegetais de 2015 a junho de 2018. Desde então, mais do que quadruplicou a capacidade de atendimento, passando de cerca de 400 atendimentos por mês para mais de 1,8 mil atendimentos.
Também aconteceu, neste ano, a sanção de um projeto que prevê que podas, transplantes e cortes de árvores em vias públicas possam ser feitos por cidadãos em Porto Alegre. Antes restritas à atuação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams) e da pasta de Serviços Urbanos, que em 2018 chegaram a acumular mais de 10 mil solicitações pendentes de atendimento, essas intervenções podem agora ser contratadas por qualquer cidadão. Ele precisa pedir autorização à Smams, apresentando laudo técnico elaborado por biólogo, engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal que comprove a existência de risco. A prefeitura terá 60 dias para analisar a documentação e emitir decisão. Caso o poder público não dê retorno no prazo estabelecido, o cidadão poderá contratar empresa ou profissional especializado para efetuar o manejo. Se cometer algum crime ambiental, ele poderá ser responsabilizado.
Até o momento, foram emitidas pelas equipes da prefeitura uma média de cem autorizações a cidadãos.
A CEEE faz supressões quando há interferência na rede elétrica.
Via no Centro foi "depenada" no começo do mês
Em novembro, a intervenção na Praça Padre Thomé, rua em frente à Igreja Nossa Senhora das Dores, no Centro Histórico, gerou grande repercussão. Após o corte de 16 vegetais, moradores publicaram posts indignados nas redes sociais e o assunto foi divulgado na coluna Perimetral. Foram cortadas porque corriam risco de queda, segundo a prefeitura.
GaúchaZH também mostrou recentemente que a praga mais comum na vegetação urbana de Porto Alegre, a erva-de-passarinho, tem se proliferado, secando vegetais em diversas vias da Capital.
A prefeitura garante que a supressão do vegetal só ocorre quando sua permanência pode levar risco a seres humanos. GaúchaZH questionou por que as árvores chegam ao nível em que precisam ser cortadas. Por meio da assessoria de imprensa, a Smams respondeu: "O processo de envelhecimento das árvores chama-se declínio vegetativo. As árvores duram menos ou mais, conforme a espécie". Porém, a idade não é o único motivo. A pasta atesta que avaliações técnicas criteriosas poderão definir se as árvores oferecem risco a outras pessoas pelo envelhecimento. "O manejo bem feito da arborização, com podas que atendem o princípio da intervenção mínima, pode contribuir para que as árvores vivam mais tempo", explica a secretaria.
Conforme a prefeitura, 4,7 mil mudas de árvores serão plantadas a partir de fevereiro — uma empresa deve ser contratada para o serviço.
Ex-secretário critica diminuição de plantio
Para o advogado e professor de Direito Ambiental Beto Moesch, que foi secretário de Meio Ambiente de Porto Alegre entre 2005 e 2008, o problema da Capital é a queda de plantio. Ele ressalta que é necessário plantar mais espécies para melhorar a qualidade do ar, diminuir a poluição sonora, proteger dos ventos e reduzir índices de alagamentos, e não apenas para compensar os cortes de árvores.
— Infelizmente, é comum no Brasil se apostar só no compensatório — lamenta, garantindo que, na sua gestão, plantava-se 10 mil mudas por ano.
No começo deste ano, GaúchaZH mostrou um cenário de abandono no Viveiro Municipal de Porto Alegre, na Lomba do Pinheiro. Os quatro funcionários que restavam atuavam como figurantes, cercados por plantas secas (como um cemitério de plantas), e não havia energia elétrica e vigias para combater os arrombamentos.
A Smams afirma que a situação mudou. A secretaria informa que, desde junho, o Viveiro conta com seis funcionários para atender as rotinas e demandas da estrutura. Foram agregados novos equipamentos - motosserra, duas roçadeiras laterais, 1,6 mil bombonas para plantio e 50 aspersores para irrigação, além de equipamentos de Proteção Individual. Também estão em processo de contratação a manutenção da subestação, a fim de restabelecer a energia elétrica do local, bem como para a reforma de estufas, reforma predial e instalação de alarme.
Para a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020, foram solicitados R$ 100 mil para melhorias físicas do espaço e R$ 50 mil para a compra de equipamentos que permitam o melhor manejo e cultivo das mudas de árvores nativas.
Ainda segundo a Smams, neste segundo semestre, o Viveiro Municipal voltou a produzir mudas de árvores nativas e ornamentais. De junho a novembro, foram produzidas 1.892 mudas de árvores nativas, das espécies Açoita Cavalo, Cerejeira, Camboim, Pessegueiro do Campo e Cocão, e mais de 12,5 mudas de folhagens e pequenos arbustos.