Servidores ativos e inativos da Assembleia Legislativa estão na expectativa de ganhar um presente de Natal desses que parecem um sonho: uma bolada que a maioria dos gaúchos que pagarão a conta não ganha em um ano inteiro de trabalho. Trata-se das diferenças da conversão de URV, a moeda virtual criada em 1994, no Plano Real.
Vinte e cinco anos depois, a URV, que para os trabalhadores do setor privado foi apenas a Unidade Real de Valor, usada na transição do cruzeiro para o real, segue dando cria no setor público. Depois de engordar contracheques no Judiciário e no Ministério Público, é a Lotofácil dos servidores da Assembleia e do Tribunal de Contas.
O pagamento foi aprovado pela Mesa Diretora no final de 2018, durante a gestão de Marlon Santos (PDT). Na ocasião, o valor estimado era de R$ 550 milhões.
Pressionado pelos servidores a quitar as ditas diferenças da URV, o presidente da Assembleia, Luís Augusto Lara (PTB), que tem sustentado um discurso de austeridade, diz que não está seus planos pagar a conta em sua gestão, que termina em 1º de fevereiro:
— Desde o início da minha gestão existe pressão para pagar, mas não está entre minhas prioridades. Nunca coloquei em pauta e sequer tratamos disso na Mesa Diretora. Embora seja direito assegurado por decisão judicial e a Assembleia tenha recursos, fruto da nossa economia, o momento não é propício.
E impossível entender como uma alegada diferença de poucos reais na conversão dos salários em 1994 se transformou, com juros e correção monetária, em uma conta que, em alguns casos, passou de R$ 1 milhão.