Foram seis meses de muita marola, mas ao final saiu da comissão especial uma reforma da Previdência possível. Tratando-se de um tema que mobiliza tantos grupos de interesse e de uma das legislaturas mais multifacetadas da imatura democracia brasileira, é um imenso avanço.
A discussão agora passa para o plenário da Câmara, onde a encrenca é maior e os lobbies, mais letais.
As discussões devem começar terça-feira (9) e há um ambiente de otimismo jamais visto em governos anteriores. Como desperdiçar tamanho esforço é arriscado demais para os humores do mercado e até mesmo para o futuro do ocupante do Planalto, há sinais de que estão assegurados os 308 votos necessários à aprovação definitiva.
A questão é o dia seguinte. Na iminência de nova recaída recessiva, a economia não dá sinais de recuperação a curto prazo. Apesar do entusiasmo de ministros como Onyx Lorenzoni, quando o país acordar na manhã seguinte à aprovação da reforma milhares de pessoas continuarão serpenteando o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, atrás de um emprego. Qualquer emprego.
Sanear a Previdência é fundamental para o país, mas só isso não basta. Metade de 2019 já passou e até agora o Ministério da Economia ainda não apresentou medidas efetivas para ativar a capacidade ociosa da indústria, aumentar o consumo, favorecer investimento e, sobretudo, gerar riqueza.
É unânime o entendimento de que a reforma tributária é a urgência que bate à porta. Também já se fala em nova reforma trabalhista, preconizada pelos setores que perderão competitividade com o acordo entre Mercosul e União Europeia. Esse ímpeto reformador que move parte dos deputados e senadores precisa ser impulsionado, sob pena de o debate ser fatalmente contaminado pelas ambições eleitorais que chegam com 2020.
Na falta de uma reforma política, tão necessária quanto as demais, que pelo menos se possa fazer andar algo com reflexos no bolso da população. A pauta de costumes, tão cara ao presidente Jair Bolsonaro, satisfaz o eleitorado que faz arminha com a mão e ergue bonecos infláveis de Sergio Moro vestido de Super-Homem, mas não paga o rancho no final do mês.