A falta de experiência, combinada com a inexistência de uma política de comunicação, explica a bateção de cabeça do presidente Jair Bolsonaro e de seus ministros na primeira semana de governo. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, tiveram de apagar o incêndio provocado por Bolsonaro e desmentiram duas medidas anunciadas pelo presidente horas antes: o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a redução da alíquota máxima do Imposto de Renda de 27,5% para 25%.
Onyx deu entrevista no final da tarde desta sexta-feira (4) e disse que “o presidente se equivocou” ao anunciar o aumento do IOF como forma de compensar a prorrogação de benefícios fiscais às regiões Norte e Nordeste, via Sudene e Sudam.
Sem conseguir esconder a impaciência com os jornalistas, que interrompiam uma resposta com novas perguntas, Onyx disse que chegou a ser estudado o aumento do IOF, mas que a medida foi descartada pela equipe econômica, porque contraria a promessa de campanha de Bolsonaro, de não elevar impostos.
A proposta de reduzir o Imposto de Renda da Pessoa Física está mantida, mas só deve ser anunciada quando o país atingir o equilíbrio fiscal. Com um déficit de R$ 139 bilhões, é improvável que o governo adote neste ano medidas que implicam redução de receita.
Na véspera, em entrevista exclusiva ao SBT, Bolsonaro já havia surpreendido ao reduzir a reforma da Previdência à fixação da idade mínima para a aposentadoria do setor privado em 57 anos para mulheres e 62 para homens, até 2022. A simplificação contraria o discurso do ministro Paulo Guedes, de que o Brasil precisa de uma reforma robusta. Contrasta, também, com as sucessivas declarações de Onyx, de que o governo vai propor regras que possam valer nos próximos 40 anos.
Na entrevista, Onyx disse que Bolsonaro só quis tranquilizar os segurados da Previdência, mostrando que haverá uma transição suave, mas que não desistiu de criar um sistema previdenciário semelhante ao do Chile, baseado no modelo de capitalização.
Aliás
As declarações de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência só não provocaram uma pororoca porque o mercado está em lua de mel com o governo e confia no taco do ministro Paulo Guedes. A bolsa bateu recorde e fechou em alta. O dólar terminou a semana em queda.