A renúncia do senador Romero Jucá à liderança do governo Michel Temer é uma dessas jogadas eleitorais ensaiadas que só convencem os desavisados. Jucá justificou a saída do cargo alegando discordar da política de Michel Temer de acolher os imigrantes venezuelanos que entram no Brasil por Roraima.
A discordância pode até ser verdadeira, mas a renúncia, a pouco mais de um mês da eleição, tem um motivo pragmático: o senador é candidato ao quarto mandato consecutivo pelo MDB. Está em terceiro lugar nas pesquisas, com 25%, empatado tecnicamente com Mecias de Jesus (PRB), que tem 26%. A líder é a senadora Ângela Portela (PDT), candidata à reeleição, com 30%. Jucá descobriu que, em Roraima, ser a favor dos imigrantes venezuelanos não dá voto.
Na onda de dizer o que o eleitor quer ouvir, Jucá passou a defender o fechamento da fronteira para os vizinhos que fogem da miséria e da ditadura de Nicolás Maduro. Essa é a tese da governadora Suely Campos (PP) e da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), ex-mulher de Jucá. Sueli e Teresa reclamam da falta de apoio do governo Temer, que só agora definiu uma política mais consistente de interiorização dos venezuelanos.
O ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, garante que o governo brasileiro não fechará a fronteira. Vai cumprir os acordos internacionais e continuar o processo de interiorização.
Roraima tem somente 331 mil eleitores. Em colégio tão restrito, qualquer voto perdido pode ser fatal para alguém como Jucá, que precisa, desesperadamente, de foro privilegiado e de poder para continuar manobrando os cordões do MDB no próximo governo, seja quem for o vencedor.
Jucá é investigado em 14 inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Em março, tornou-se réu, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na delação premiada da Odebrecht na Operação Lava-Jato.
A “renúncia” de Jucá tem outro motivo prático. Em seu Estado, o governo Temer é reprovado pro 88% dos eleitores. O líder das pesquisas na eleição presidencial em Roraima é Jair Bolsonaro (PSL), que tem 39% das intenções de voto no cernário em que o ex-presidente Lula é substituído por Fernando Haddad.