A representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur/ONU), em passagem por Porto Alegre, nesta sexta-feira, defendeu o projeto de interiorização de imigrantes venezuelanos para o Rio Grande do Sul, argumentando que se trata não apenas de uma ação humanitária, mas também de uma oportunidade para os gaúchos. Segundo Isabel Marques, a população da Venezuela, que está fugindo do país por falta de recursos básicos e perseguição política, se destaca pela motivação e qualificação, com potencial de ajudar o Rio Grande do Sul.
— Eles vêm com muita vontade. Então, não é só uma ação humanitária, mas é também uma oportunidade para o Brasil e para o Rio Grande do Sul, porque são pessoas muito motivadas, bem preparadas, como vocês, como nós — apontou, em entrevista ao programa Gaúcha+, da Rádio Gaúcha.
A representante da ONU também destacou o problema que a xenofobia representa para a superação da crise humanitária envolvendo os imigrantes, não apenas na América Latina.
— Estamos vivendo uma crise sem precedentes, uma crise de solidariedade. No mundo inteiro. Não é fácil receber um número significativo de pessoas outro país sem saber bem porque elas se deslocam. O desconhecido é sempre difícil. A xenofobia é um grande obstáculo. Muitas vezes é a ignorância do desconhecido, ignorância do estrangeiro. Tomara que não nos aconteça nunca nada, mas um dia pode acontecer, e então vamos fugir. Gostaríamos de ser tratados de que maneira? (Os venezuelanos) são médicos, estudantes, pedreiros, empregados domésticos. Devemos combater a xenofobia que existe no Brasil — argumentou.
Isabel lembrou que, além da pobreza e da fome, tem aumentado a perseguição política na Venezuela - o que amplia quantidade de gente fugindo do país.
— O acesso à comida e aos serviços básicos (na Venezuela) está sendo condicionado à apresentação do que se chama o “carnê da pátria”, portanto, vai vinculado, um pouco, à opinião política das pessoas. Então, estamos vendo um perfil cada vez mais de refúgio (entre os venezuelanos). Como também outras pessoas que vêm por razões de sobrevivência.
O RS receberá, nas próximas semanas, 646 imigrantes venezuelanos. Os selecionados fazem parte do grupo de imigrantes que se voluntariou para seguir de Roraima, onde estão atualmente, para outros locais do país. Em Canoas, serão três alojamentos para 425 pessoas. Em Esteio, os 221 venezuelanos ficarão em duas instalações. Eles começam a chegar no dia 6 de setembro, em voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Outros três voos, até 18 de setembro, trarão os demais.
A vinda de imigrantes ao RS passa por uma parceria entre os dois municípios gaúchos, o governo federal e a ONU. Os alojamentos serão pagos organismo internacional, enquanto o governo federal fica responsável pelo transporte e pelo repasse para as prefeituras de recursos na ordem de R$ 400, por mês, por imigrante. Os municípios ficam responsáveis pelo apoio social aos imigrantes.
Segundo a porta-voz da Acnur, há interesse tanto de famílias inteiras quanto de homens que buscam emprego fora da Venezuela para sustentar seus familiares. Conforme o governo federal, cerca de 50% dos venezuelanos que buscam abrigo no Brasil têm curso superior completo.