Meu primeiro cartão de Dia das Mães era uma singela folha branca com a mãozinha do Eduardo carimbada com tinta guache. Fui a última a chegar à festa na creche e encontrei meu filho triste, no colo da cuidadora a quem chamávamos de "vó". Todas as mães chegaram na hora, menos eu que saí no meio do trabalho, peguei mais trânsito do que imaginava e por pouco não perdi a primeira celebração de Dia das Mães. Por que falo isso, 26 anos depois? Porque ainda hoje, sinto uma ponta de culpa pelas vezes em que cheguei atrasada ou precisei pedir a minha irmã que me substituísse no Dia das Mães.
Compartilho essas memórias um tanto doloridas porque muitas de nós, mães que trabalham, carregamos a culpa de ausências que nossos filhos assimilaram mais facilmente. Supervalorizamos as oportunidades perdidas. Não consigo apagar do disco rígido o dia em que voltei de uma viagem de 12 dias, morta de saudade, imaginando que Luiza, então com 11 meses, se atiraria nos meus braços, mas ela preferiu agarrar-se ao pescoço da tia Roseli, como para me punir pela ausência.
Volta e meia encontro na desordem das minhas gavetas um cartão de Dia das Mães. Mesmo que nem todos estejam datados, fico a imaginar de que ano são, pelo formato da letra _ os primeiros só com desenhos de corações, os seguintes em maiúsculas desalinhadas, com o clássico TE AMO MAMÃE, depois a letra cursiva com frases do tipo "Você é a melhor mãe do mundo", as recordações das aulas de inglês (Love you, mother) e, por fim, os mais elaborados, com mensagens garantindo que, mesmo se fosse possível, não trocariam de mãe.
Não sou a mãe que gostaria ser mãe. Não ensinei a meus filhos tarefas básicas para a sobrevivência na selva de pedra, como lavar pratos, cozinhar, arrumar a cama, organizar o quarto, lavar a própria roupa.
Sei que deveria ser menos apegada, porque devemos criar os filhos para o mundo, mas não escondo o prazer de tê-los debaixo da minha asa. Gosto quando meu filho viaja e, na volta, pede que eu faça "comida de mãe". Adoro quando minha filha pede para buscá-la na faculdade ou para fazer uma limonada. De tanto amor, às vezes asfixio meus filhos com mensagens de WhatsApp no meio da madrugada, para saber se estão bem. Ajusto minhas férias para poder viajar com minha menina, que já tem 22 anos, porque sem pelo menos um deles os lugares mais aprazíveis tornam-se desinteressantes.
Por mais que seja apenas uma data comercial, o Dia das Mães é o meu preferido no calendário. Neste ano, estarei longe da minha mãe, que mora a 300 quilômetros de distância e muito cedo teve de se acostumar à ausência dos filhos. Eu tinha 10 anos quando precisei sair de casa para estudar na cidade. Dezessete quando passei no vestibular, mudei para Porto Alegre e só voltei a passeio. Minha mãe me deu asas para voar. Eu conto com a tecnologia do chip para não perder o contato com os filhotes quando estão fora do ninho. E para falar com ela sempre que bate a saudade.