Quando recebi o vídeo com o trailer de Teu Mundo não Cabe nos meus Olhos, senti que iria me apaixonar pela história do pizzaiolo cego interpretado por Edson Celulari, casado com ninguém menos do que a argentina Soledad Villamil. Fui assistir ao filme em uma sessão especial para convidados e senti necessidade de dividir as impressões sobre essa produção que estreia na quinta-feira e que poderia ser definida como um ensaio sobre tolerância, respeito e direito de escolha.
Dono da Piccolo Mondo, uma pizzaria no coração do bairro do Bixiga, em São Paulo, o protagonista Vittorio ficou cego ainda criança e aprendeu a lidar com as limitações. É ele quem prepara a massa, monta e assa as pizzas que encantam os clientes. Vitorio "vê" a massa por dentro, sente a textura do tomate, percebe tudo o que se passa a sua volta, move-se em seu mundo sem coitadismo. Vai ao estádio com o radinho de pilha assistir aos jogos do seu Corinthians e vibra como se visse o gol em alta definição. Pede ajuda da filha Alícia (Giovana Echeverria), adolescente sem paciência, para ler as páginas de esportes do jornal.
Soledad é Clarice, filha de um judeu argentino, rico, que não se conforma com a escolha da filha, para quem sonhou um futuro brilhante. A família quer convencer Vitorio a fazer uma cirurgia experimental que pode lhe devolver a visão, mas ele resiste até o dia em que um episódio de violência o faz reconsiderar a decisão. Não posso contar o filme para não tirar o prazer de acompanhar as sutilezas da história, mas devo dizer que Celulari não deve nada a Ricardo Darín, com quem Soledad contracena em El Secreto de sus Ojos (Argentina, 2009). É uma surpresa positiva para quem só o conhece dos papéis secundários em telenovelas.
As cenas com o garçom interpretado por Leonardo Machado – o amigo que qualquer um gostaria de ter – são um contraponto divertido à atuação contida de Soledad com seu olhar eternamente melancólico.
Teu Mundo não Cabe nos meus Olhos é um filme para ser visto por quem não enxerga e por quem não ouve. A produtora Accorde tratou de garantir audiodescrição e tradução em Libras, para que cegos e surdos possam acompanhar a história do seu jeito e se emocionar com as descobertas de cada personagem.