As quebras de sigilos determinadas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, cercam o presidente Michel Temer por todos os lados. Barroso terá acesso não apenas à movimentação financeira de Temer, mas de três pessoas muito próximas: o ex-assessor José Yunes, o coronel João Baptista Lima Filho, amigo e assessor para assuntos da família, e o homem da mala, Rodrigo Rocha Loures, que tinha copa franca no Palácio do Jaburu até ser flagrado na operação controlada da Polícia Federal, que filmou a entrega de dinheiro da JBS. Não para por aí: também serão devassadas as contas dos donos da Rodrimar, empresa que, segundo a delação de Joesley Batista e Ricardo Saud, teria pago propina em troca de benefícios no decreto dos portos.
A reação do Palácio do Planalto, e particularmente do ministro Carlos Marun, indica que Temer acusou o golpe. A Secretaria da Comunicação divulgou nota dizendo que Temer solicitará ao Banco Central os extratos de suas contas referentes ao período mencionado no discurso de Barroso. O período é extenso — janeiro de 2013 a junho de 2017, o que significa processar milhares de operações.
“O presidente dará à imprensa total acesso a esses documentos. Ele não tem nenhuma preocupação com as informações constantes em suas contas bancárias”, diz a nota.
A lógica da manifestação é que, de qualquer forma, essas informações acabarão vazando. O recado dado nas entrelinhas é de que o presidente está convicto de que nada que o incrimine será encontrado na devassa bancária.
Ainda que as contas de Temer não tenham um tostão além de seu benefício de procurador aposentado e do subsídio vice-presidente e de presidente da República, a preocupação do entorno deve ser com os demais investigados. Se Rocha Loures foi capaz de receber uma mala recheada de dinheiro em um restaurante de São Paulo, tudo é possível. Se surgir algum repasse da Rodrimar para Loures ou para os outros dois “homens do presidente”, a situação se complica. Até hoje, ele não explicou a mala recebida de Joesley. O coronel Lima foi o responsável pela reforma do apartamento de uma das filhas de Temer.
Pouco dado às sutilezas, o ministro Carlos Marun admitiu que Temer está “contrariado e indignado”. Na insuspeita avaliação de Marun, a quebra de sigilo do presidente é indevida:
— Não há como não se indignar diante do fato de que um inquérito completamente fraco, onde inexistem sequer indícios de qualquer ilícito, resulte numa decisão dessas que, em se, digamos sendo tomada em relação ao presidente da República revela uma falta de cautela que nos estranha nesse momento.
Só depois de concluída a investigação é que se poderá saber se o inquérito é fraco ou forte. Indícios de tráfico de influência no decreto dos portos existem em abundância. Também não faltam sinais exteriores de que o grupo Rodrimar teve seus interesses amplamente contemplados no decreto. Se houve ou não pagamento de propina é o que Barroso, na condição de relator, tenta descobrir com as quebras de sigilo. Temer e a empresa negam que tenha havido favorecimento, mas Joesley e Saud apresentaram uma espécie de mapa do caminho das pedras.