A sessão do Supremo Tribunal Federal corria monótona nesta quinta-feira, com a discussão de um tema de interesse restrito (uma emenda à Constituição do Ceará que extinguiu o Tribunal de Contas dos Municípios), quando um bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso acordou os telespectadores da TV Justiça e logo se esparramou pelas redes sociais. O episódio seria mais um dos tantos já protagonizados por Gilmar, não fosse por um detalhe: Barroso deixou de lado a pose de lorde inglês e expressou o que outros colegas podem até pensar, mas não dizem para evitar barraco.
Gilmar fez uma ironia com o Rio de Janeiro e Barroso se incomodou. Disse que o colega “não trabalha com a verdade”. Gilmar retrucou que Barroso já advogou para “bandidos internacionais”.
No embate, Barroso foi duro:
– Não transfira para mim esta parceria que Vossa Excelência tem com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco. Vossa Excelência muda a jurisprudência de acordo com o réu. Isso não é Estado de Direito, isso é estado de compadrio. Juiz não pode ter correligionário.
O diálogo que deu início à discussão não tinha potencial para uma briga desse porte, mas já faz algum tempo que os ânimos na Suprema Corte andam exaltados e qualquer faísca é capaz de acender o pavio.
Tudo começou quando Gilmar relembrou um julgamento sobre regras para pagamentos de precatórios e ironizou o
fato de o Rio de Janeiro ter sido apontado como exemplo.
– Gente, citar o Rio de Janeiro como exemplo... – disse Gilmar.
– Eles devem achar que é Mato Grosso, onde está todo mundo preso – rebateu Barroso.
– No Rio, não estão? – perguntou Gilmar.
– Aliás, nós prendemos, tem gente que solta – alfinetou Barroso, sem citar o empresário Jacob Barata Filho, o barão dos ônibus, duas vezes libertado por Gilmar.
– Solto cumprindo a Constituição. Vossa Excelência, quando chegou aqui, soltou José Dirceu – disse Gilmar.
Barroso se indignou:
– É mentira. Aliás, Vossa Excelência normalmente não trabalha com a verdade. José Dirceu foi solto por indulto da presidente da República. Vossa Excelência está fazendo um comício que não tem nada que ver com o Tribunal de Contas do Ceará. Vossa Excelência está queixoso porque perdeu o caso dos precatórios e está ocupando tempo do plenário com um assunto que não é pertinente para destilar esse ódio constante que Vossa Excelência tem e agora o dirige contra o Rio. Vossa Excelência deveria ouvir a última música do Chico Buarque: “A raiva é filha do medo e mãe da covardia”. Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro. Não julga, não fala coisas racionais, articuladas. Sempre fala coisas contra alguém, sempre com ódio de alguém, com raiva de alguém.
Em vão, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, tentou apaziguar os ânimos. A sessão foi encerrada logo depois da briga.