O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Desde o início de fevereiro, o republicano Donald Trump, que vai assumir seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro, está falando, em discursos públicos e nas redes sociais, sobre "conquistar" territórios como o Canadá, a Groenlândia e Canal do Panamá.
Por trás dessa atitude, há interesses securitários, econômicos e, principalmente, políticos.
O primeiro ponto é o slogan de Trump, "America First" — em tradução livre, "América em primeiro lugar". A ideia, apesar de ganhar mais notoriedade durante as guerras, nasceu com Thomas Jefferson, nos idos anos de 1800.
A premissa é de usar a força dos EUA para interesses nacionais, mesmo que, para isso, seja necessário "brigar" com potências aliadas que sejam mais fracas.
Há também a crença de Trump de que os EUA devam exercer sua influência. Ele também adota a ideia de que alguns líderes buscam perseguir agressivamente objetivos externos para se autofortalecer internamente.
A chance de o republicano atingir o que vem bradando é nula, principalmente no caso do Canadá, um país independente.
A Groenlândia atrai Trump e os falcões que irão compor sua administração pelo ponto de vista da segurança, já que o território fica em um ponto estratégico até mesmo para repelir um possível ataque da Rússia. Há, também, interesses nos minerais em terra e nas rotas marítimas reveladas a partir do derretimento de geleiras no Polo Norte.
Sobre o Canal do Panamá, a grande reclamação de Trump reside nos altos valores cobrados de embarcações americanas que cruzam a via. O controle do espaço, hipótese que violaria a soberania do Panamá, também um país independente, poderia, na lógica de Trump, "baratear" os custos no trânsito de embarcações entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
Já sobre o Canadá, a eventual anexação não se daria sem guerra, obviamente. Por isso, embora Trump faça barulho e agite seus seguidores, a ideia dificilmente seria levada adiante. A anexação do Canadá (o futuro presidente chegou a publicar um mapa fictício no qual o país aparece como parte do território americano) levaria a um aumento considerável da área dos EUA, já que os países são fronteiriços.
Tudo, no entanto, não passa de bravatas, completamente descoladas da realidade. Não haveria anexação de qualquer um desses territórios sem conflito armado.