Ironia das ironias, a cerimônia de certificação do resultado da eleição de Donald Trump, em novembro passado, foi presidida por Kamala Harris, a vice-presidente e candidata derrotada no pleito passado. Nos Estados Unidos, a presidência do Senado é exercida pela mesma pessoa que ocupa o cargo de vice-presidente do país.
Além de ter sido derrotada por Trump, Kamala foi eleita na chapa com Joe Biden, em 2020, e teria sua vitória certificada no fatídico 6 de janeiro de 2021. Naquele dia, uma turba de apoiadores de Trump invadiu o Capitólio no momento em que ocorria a sessão, no maior ataque à democracia dos Estados Unidos — e uma espécie de prévia do que o Brasil viveria em 8 de janeiro de 2023.
Até aquela data, a cerimônia no Congresso era apenas um ato simbólico, que não chamava a atenção fora do território americano. Tudo mudou desde então. Naquela ocasião, até Mike Pence se voltou contra Trump — ele seguiria a tradição e teria resistido aos apelos do chefe.
Trump, como mau perdedor que é, não aceitou o resultado da eleição de 2020, nega ter insuflado os vândalos, mas está sendo processado por insurreição. Também não passou o cargo, no 20 de janeiro, a Biden.
O tapa de luvas veio nesta segunda-feira (6) por parte de Kamala, que, mesmo derrotada, seguiu o rito sem anormalidades. Pelo bem da democracia.