Sarandi, Vila Farrapos e Humaitá, bairros traumatizados pela enchente de maio, voltaram a alagar nesta quinta-feira (26) devido à ineficiência do sistema de drenagem da Capital. Pela Rua Voluntários da Pátria, um veículo acabou ilhado em um dos pontos de alagamento, e os quatro ocupantes do carro, cercados pela água que chegava à metade da altura das rodas, precisaram sair pelo teto solar.
A imagem me lembrou uma famosa foto de 2001, na avenida Goethe, no bairro de Moinho de Vento, quando passageiros de uma lotação foram retirados do veículo por um jet-ski de um morador da região. Lá se vão mais de 20 anos. O problema crônico da Goethe foi resolvido — ali, não alaga mais. Já o resto da cidade... Outra imagem impressionante de ontem é o alagamento na esquina da Protásio Alves com Neusa Goulart Brizola. A cada chuva, os porto-alegrenses estão descobrindo novos locais onde os boeiros cospem água.
Antigamente, gostava de dias chuvosos e sua melancolia. Os traumas de setembro e de maio me fizeram odiar chuva. Dias atrás, em entrevista à coluna, a supervisora de saúde mental do Médicos Sem Fronteiras (MSF), a gaúcha Júlia Martins, afirmou que, depois de passarmos pelo que passamos, as pessoas podem continuar sentindo ansiedade um pouco mais aumentada, algumas dificuldades em relação ao sono, angústia, por exemplo, quando chove.
— As pessoas podem sentir aquele receio traumático e de rememoração — disse.
É isso. Vivemos um trauma coletivo.
Cláudio Julaia, coordenador de emergências do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), seguiu a mesma linha.
– Em uma situação como essa e pelo impacto que teve, as características acabam sendo similares a outros eventos: o susto, o trauma, o estresse, o medo, cada vez maior, que se avise que vai haver chuva.
No próximo dia 3, completam-se cinco meses do dia em que Porto Alegre começou a submergir. Quantos meses ainda serão necessários para que nós, porto-alegrenses, nos sintamos seguros?
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