O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O fotógrafo porto-alegrense Gerson Turelly representa o Brasil na final do Standard Chartered Weather Photographer of The Year 2024, um prêmio internacioanl de fotografia climática. A imagem em que Turelly concorre é um registro do período da enchente de maio.
O resultado da premiação sai em 30 de outubro. O profissional conversou com a coluna.
Há quanto tempo você atua com fotografia?
Desde 2001, 2002. Passei por uma série de formação de cursos no final dos anos 90 e depois comecei a atuar com a fotografia, como uma segunda profissão desde no início dos anos 2000. Eu era funcionário público nesse período. E também comecei, quase assim que ao mesmo tempo, a ensinar fotografia numa escola aqui de Porto Alegre. Até me tornei sócio nessa escola mais adiante. Então, eu tive uma trajetória aí nesses últimos mais ou menos 20 anos dentro de pesquisa e ensino de fotografia e também uma parte de atuação comercial na fotografia.
Como foi o dia em que você tirou aquela foto?
Esse tipo de cena que é decorrente de evento climático, ela nunca esteve na minha pauta de interesse de fotografia, porque aqui em Porto Alegre estávamos muito distante disso, não é da normalidade de Porto Alegre alguma coisa nesse sentido, mas isso aí começou a acontecer de uma maneira que nunca teve precedente e chamou demais a atenção. Eu moro no Jardim Botânico e saí caminhando até lá, mais de uma hora de caminhada, porque eu queria ver pessoalmente como é que estava essa situação. Então, eu circulei por algumas áreas do centro e fiquei consternado, fiquei muito impactado com o que eu estava vendo, com as pessoas precisando ser resgatadas, que foi um horror aquilo. O centro é um lugar que eu fotografo muito e eu chego lá e é uma desolação, é uma desolação. As pessoas também estavam com um olhar de descrença, e sentindo-se desoladas. Até que eu fui cruzando algumas ruas, chegando em alguns lugares e quando cheguei ali na Caldas Júnior e vi que tinha esse rapaz, ele estava ali no caiaque, ele já estava na água, e na medida que eu fui me aproximando, ele já foi subindo no caiaque e começando a tomar direção rumo ao muro lá da Mauá. Fiz uma, duas fotos ali daquela cena, que para mim era um registro desse centro urbano, numa área que pulsa, que é efervescente, que tem movimento de carro, de gente, que virou uma hidrovia.
Quando foi fotografar, o que observou?
Tem a questão de observar a luz e ali tínhamos áreas de mais sombra, áreas com mais luz, não era uma cena de iluminação muito contrastada, mas tinha um certo contraste sim, então tinha que acertar, poder capturar detalhe em área clara e em área escura. Mas acho que a preocupação maior foi com a questão do enquadramento, para mostrar o ambiente, mostrar a questão da invasão da água, situar o local e esse caiaque, o resgatista, e conduzindo o olhar junto com a própria linha da rua. Tem umas pessoas que estão mais adiante ali também. Acho que a preocupação maior foi com a questão do enquadrar, muito rápido, porque como eu falei, ele já estava em deslocamento, ele já estava remando, por isso que o título da foto, Rowling, tem a ver com remar, e para não perder onde é de foco, eu tive que resolver rapidamente. Ainda, embora eu use muito o preto e branco nas minhas fotos, eu optei pela cor na fotografia que foi para o concurso pelo fato de mostrar exatamente a cor da água que tomava conta do centro de Porto Alegre.
Como soube do prêmio?
Foram semanas depois, eu tenho por costume, eu vou verificando por internet, canais que eu estou inscrito, e recebo informações sobre concursos de fotografia que acontecem no Brasil, mundo afora, e apareceu esse concurso. E fiz a inscrição.
E é o único brasileiro finalista. Como encara isso?
Me enche de orgulho por ter essa distinção, ao mesmo tempo que traz uma responsabilidade de representar bem a fotografia brasileira, que é uma fotografia com muita importância dentro do mundo, e principalmente a questão de ter fotografado Porto Alegre, que é a minha cidade, e acho que o destaque que essa fotografia está recebendo agora, nesse momento, é muito importante para todo e manter o foco nesse problema, na crise climática, na prevenção contra futuras enchentes.
Leia aqui outras colunas.