O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O relato de denúncias de assédio sexual envolvendo o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, sofrido pela ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, é o terceiro caso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de lidar com problemas de seus auxiliares. Os outros foram com a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e com o titular das Comunicações, Juscelino Filho. Mas ambos os fatos diferem do caso atual.
Daniela do Waguinho, que deixou o governo em junho de 2023, teve no começo daquele ano um vídeo publicado nas redes sociais que gerou polêmica. Nas imagens, ela recebia o apoio eleitoral de Márcio Pagniez, também conhecido como Marcinho Bombeiro, que é acusado de chefiar milícia da Baixada Fluminense (RJ). Ao mesmo tempo, se desfiliou do União Brasil, partido ao qual pertencia, e a sigla reivindicou o cargo.
Juscelino Filho também apresentou episódios desde o início do mandato. Logo após assumir o ministério, ele utilizou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para cumprir agendas pessoais e recebeu quatro diárias e meia. Juscelino também foi acusado de ter embolsado parte de outras diárias de viagens nacionais e ao Exterior ao cumprir alguns compromissos oficiais.
Em fevereiro de 2023, foi divulgado que o ministro deixou de informar ao Tribunal Superior Eleitoral um patrimônio de R$ 2,2 milhões em cavalos. A mais recente denúncia é por suspeita de integrar organização criminosa que desviou verbas de obras de pavimentação de estradas com recursos estatais. Apesar dos casos, Juscelino segue no ministério.
Porém, o episódio envolvendo Almeida e Anielle difere dos demais. Isso porque o tema de assédio sexual é tido como “pauta cara” para o governo Lula. Por vezes, os discursos do presidente e do Partido dos Trabalhadores (PT) foram de ênfase contrária ao crime, repudiando o ato em qualquer esfera que fosse.
Logo após as denúncias se tornarem públicas, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto divulgou nota afirmando que elas são graves e que o caso será tratado com celeridade. Também, que Almeida prestasse esclarecimentos à Controladoria Geral da União (CGU). A Polícia Federal abriu investigação para apurar as acusações.
Na sexta-feira, Lula disse em entrevista que o governo tem “prioridade em fazer com que as mulheres se transformem numa parte importante da política”.
— Não é possível a continuidade no governo, porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso, a defesa das mulheres, a defesa, inclusive, dos direitos humanos com alguém que esteja sendo acusado de assédio — acrescentou.
Almeida nega as acusações. Ele foi exonerado do cargo diante uma dura nota. O tema se torna, mais uma vez, central na pauta do governo e deve ser apurado, como nas próprias palavras do Planalto, com celeridade.
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