O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Quase dois meses depois do ex-primeiro ministro da França Gabriel Attal renunciar ao cargo, Emmanuel Macron nomeou nesta quinta-feira (5) Michel Barnier para o posto. Nome rejeitado pela oposição, a escalação do novo premier indica que os próximos meses serão de desafios para o presidente francês.
O primeiro deles se apresentou a Macron ainda em 7 de julho, quando tudo se caminhava para que o partido de extrema direita de Marine Le Pen vencesse as eleições, mas, em uma reviravolta, a coalizão de partidos de esquerda venceu o pleito.
Sem maioria necessária para anunciar o representante, a decisão da escolha do primeiro ministro ainda ficaria com o presidente. No resultado final, a esquerda conseguiu 182 deputados. O centro, de Macron, ficou em segundo lugar, com 163 assentos, e a ultradireita conquistou 143 lugares. Para maioria, eram necessárias 289 cadeiras.
Um dos primeiros a se pronunciar à época foi o líder da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, dizendo que o presidente deveria "admitir a derrota e formar governo com a esquerda", em pedido para que fosse nomeado um nome da sua ala política para o cargo.
No mesmo dia das eleições, Attal anunciou que deixaria o cargo, sob alegação de que o grupo que ele representava — ala centrista — não obteve sucesso no pleito. Contudo, Macron pediu para que ele permanecesse até o fim dos Jogos de Paris — fato que se efetivou.
Durante todo esse período, o partido de esquerda fez pressão para que o nome escolhido fosse do seu espectro político. Um dos nomes indicados pela Nova Frente Popular (NFP) foi da economista Lucie Castets, alternativa negada por Macron, que também fazia movimentos buscando nomes e conciliação, tanto em conversas com a esquerda e com a direita. O fato que mais chamou a atenção foi que, na última semana, o mandatário francês reuniu com Marine Le Pen e Jordan Bardella, líderes da ultradireita que foram derrotados nas eleições, o que gerou mais desconforto na maioria do legislativo.
O novo primeiro ministro
As ações de Macron culminaram na nomeação de Barnier nesta quinta. Em comunicado oficial, o presidente pediu ao novo primeiro ministro a "formação de um governo de unidade".
Barnier é visto como um político de direita e conservador. Ficou conhecido por comandar as negociações do Brexit, que levaram o Reino Unido a deixar a União Europeia em 2020. Antes disso, foi ministro do Meio Ambiente, entre 1993 e 1995, e ministro de Estado para Assuntos Europeus, de 1995 a 1997. Foi o chanceler da França no início dos anos 2000, e em 2021 chegou a ventilar possível pré-candidatura à presidência da França, mas não teve apoio no próprio partido.
O premier já assume com a responsabilidade de começar a trabalhar em um projeto de orçamento para 2025 que deve ser apresentado à Assembleia em 1º de outubro.
Logo depois do anúncio nesta quinta, o próprio Mélenchon afirmou que “a eleição foi roubada” e convocou manifestações para o sábado (7). Também afirmou que sua coalizão não acredita “nem por um momento” em possível maioria com o novo primeiro ministro. Do outro lado do espectro, alguns bastidores da política francesa apontam que Barnier teria o apoio de Le Pen.
Agora, caberá a Macron sustentar o nome do novo primeiro ministro e ter apoio na Assembleia. Por mais que não tenha maioria, a esquerda ainda tem o maior número de cadeiras e poderá vetar parte dos projetos propostos pelo governo. As linhas de pensamento e de ações daqui para frente precisam entrar em consenso, pois Macron fica até 2027 na presidência e necessita de apoio para continuar trabalhando para que a França continue vivendo a sua Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
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