Independentemente do resultado da eleição na Venezuela, há lições a serem aprendidas do processo que colocou frente a frente Nicolás Maduro, líder autocrático de um regime corroído pelos anos, e Edmundo González Urrutia, ex-embaixador alçado a candidato da oposição acossada, em uma tática de última hora a partir do impedimento de María Corino Machado, a favorita, de concorrer.
A primeira lição é que, finalmente, a oposição venezuelana, diferentemente do passado omisso, percebeu que não é suficiente lavar as mãos diante de um governo autoritário. Por anos, os adversários do chavismo-madurismo, por não reconhecerem os processos eleitorais, se omitiram à espera de, na derrota em pleitos de cartas marcadas, angariarem apoio internacional, que, não obstante vinha, mas em nada modificava a vida doméstica do país.
Segundo: pressionada, a ditadura faz água. Pela primeira vez, Maduro prometeu respeitar o resultado das urnas. As próximas horas ou dias se encarregarão de definir se falou a verdade.
Terceiro, o processo venezuelano mostrou, ao Brasil, que é possível – e às vezes necessário – tomar lado. A mão pesada de Maduro obrigou o presidente Lula, ao menos publicamente, a mudar de posição. Em junho de 2023, quando lhe perguntei sobre a dificuldade de a esquerda considerar a Venezuela uma ditadura, Lula disse na Rádio Gaúcha que a democracia era um conceito relativo. Aos 45 minutos do segundo tempo, percebeu o contrário, cerrando fileiras ao lado da maioria dos estadistas do continente.