Urbano José Pibernat Villela saiu de Uruguaiana, na Fronteira Oeste, muito cedo para estudar e fazer carreira. Nos anos 1970, cursou Engenharia Elétrica, na PUCRS, em Porto Alegre.
À época, o então ministro das Comunicações do regime militar, Hygino Caetano Corsetti, também gaúcho, foi homenageado pela turma de formandos. Ao ver aquele grupo de jovens engenheiros, o político, que pretendia implantar a Telebras e inaugurar a TV a cores no Brasil, convidou seis deles para empreitada.
Assim, Urbano chegou a Brasília pela primeira vez. Nessa época, já pintava quadros, talento que descobriu na infância. A técnica de óleo sobre tela, entretanto, ele só desenvolveu nos anos 1950, quando, em meio ao turbilhão provocado pela morte de Getúlio Vargas, decidiu fazer o primeiro quadro desse tipo, retratando o ex-presidente.
Foi nos anos 2000 que ele ganhou a grande chance de mostrar sua arte na capital federal. Após pintar presentear o senador José Sarney com um retrato, veio o convite: reproduzir todos os presidentes do Senado para o Museu da Casa, localizado no térreo do Congresso.
No total são mais de 60 quadros dos senadores do Império, da República Velha, do pós-1930, pós-1964 e da Nova República. Os mais difíceis de reproduzir foram os retratos do Império, período histórico em que as fotografias são escassas.
- Para mim foi espetacular, um trabalho sensacional de pesquisa. Enorme. No caso do Império, a família toda se envolveu para fazermos o mais fiel possível - conta.
Na sequência, Urbano começou a trabalhar na galeria da República.
No dia 8 de janeiro de 2023, o Museu do Senado foi um dos primeiros alvos dos vândalos que atacaram o Congresso, pela facilidade de acesso. Vidros foram quebrados, uma edição da Constituição rasgada, e cinco quadros de Urbano danificados.
- Foi uma barbárie. No primeiro momento, quando vi aquela cena na TV, imaginei que meu trabalho todo tinha sido todo destruído - lembra.
Das cinco telas em óleo danificadas, uma que retrata o ex-senador Ramez Tebet, pai da atual ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, duas de Sarney e duas de Renan Calheiros.
Urbano, que atualmente é funcionário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, não viu o museu destruído.
- Seria desagradável - afirma.
Agora, aos 80 anos, ele trabalha pintando do zero as obras destruídas. Os novos quadros serão entregues ao Senado no próximo dia 9, às 18h, durante a exposição "Reconstrução: arte e democracia andam juntas", que ocorrerá no anexo I da Casa. Além dos retratos, vai produzir duas obras que lembram os ataques de 8 de janeiro.