Desde segunda-feira (2), um trecho do vídeo da cerimônia em que Lula recebe os cumprimentos dos chefes de delegações internacionais, durante a posse, no Palácio do Planalto, vem viralizando nas redes sociais. Nas imagens, a primeira-dama Rosângela da Silva, Janja, se retira do lado do marido e se coloca mais atrás, com Lu Alckmin, momentos antes da aproximação do representante do Irã, Seyed Mohammad Hosseini, vice-presidente para Assuntos Parlamentares da ditadura dos aiatolás.
Lula e e o vice, Geraldo Alckmin, apertaram as mãos de Hosseini, que conversou por algum tempo com o presidente. Com Janja e Lu, não houve toques. A saudação foi feita à distância, ao que as mulheres assentiram com a cabeça. Na sequência, assim que os dois representantes iranianos passaram, elas voltaram a se posicionar ao lado dos maridos, quando chegou a vez do primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonçalves, parabenizar os recém-empossados.
O gesto chamou atenção porque destoou do restante da cerimônia. Antes da vez dos iranianos, Janja permaneceu por cerca de 30 minutos ao lado de Lula recebendo os líderes estrangeiros. Nas redes sociais, o gesto da primeira-dama, que é socióloga e defensora das causas feministas, foi visto como repúdio à repressão aos direitos das mulheres no país dos aiatolás - explicitado, recentemente, pela prisão e morte da jovem Mahsa Amini por uso incorreto do véu islâmico.
Na segunda-feira (3), a Embaixada do Irã no Brasil, em resposta a um tuíte do colunista Lauro Jardim, de O Globo, se pronunciou. Na nota, afirmou: "Ser visto no vídeo, na saída da delegação anterior, o cerimonial da Presidência (amarelo) informa a Janja sobre o protocolo iraniano e que a delegação iraniana seria a próxima a cumprimentar o Presidente Lula. Portanto, ela se afastando do Presidente, seguindo orientação do cerimonial".
Ao se observar as imagens, é possível ver o chefe do cerimonial, embaixador Fernando Igreja, conversando com Janja, quando representantes de Cuba ainda estão com Lula. Ela, então, se afasta, colocando-se ao lado de Lu Alckmin mais atrás.
Pela tradição islâmica, mulheres não podem, em público, tocar em homens que não sejam seus maridos. Logo, o cerimonial da posse seguiu essa orientação.
Não é verdade que Janja não tenha cumprimentado o representante do Irã - ela acena com a cabeça, embora não o toque.
Diante da versão segundo a qual a primeira-dama teria se ausentado como sinal de protesto contra a repressão no Irã, a coluna questionou a assessoria de Janja, mas não recebeu retorno até o momento.