Xi Jinping chamou Vladimir Putin de "velho amigo", ao que o russo respondeu elogiando a "posição equilibrada" da China na questão da Ucrânia.
Cada um com seus próprios tetos de vidro, os líderes que representam as maiores ameaças aos Estados Unidos e à ordem internacional liberal, erigida pelos americanos após a Segunda Guerra Mundial, se reuniram nesta quinta-feira (15), no Uzbequistão, durante a Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, que agrupa, além de China e Rússia, outros países da Ásia Central.
É o primeiro encontro entre Putin e Xi desde o início da guerra na Ucrânia - e a primeira vez que o chinês sai de seu país desde o início da pandemia de covid-19.
Os olhos do mundo estão voltados para esse aperto de mãos porque, você deve lembrar, na última vez em que se encontraram, na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, ambos prometeram uma "parceria sem limites".
Dias depois, em 24 de fevereiro, a Rússia invadiu a Ucrânia, e a reconstrução do mundo pós-pandemia se tornaria ainda muito mais difícil com o conflito em andamento, que elevou os preços dos alimentos e gerou uma crise energética que ameaça, literalmente, congelar a Europa no inverno que se aproxima.
Putin só tem a China a quem recorrer nesse momento mais delicado da guerra - quando suas tropas batem em retirada de algumas cidades, entre elas Kharkiv, e a liderança do regime começa a ser questionada internamente.
Desde o início do conflito, a China se tornou a grande compradora de commodities russas, diante das sanções ocidentais. O país também se absteve de votar a moção de condenação contra a Rússia na ONU, por suas ações na Ucrânia, porque tem seus interesses domésticos: sabe-se que um dia (a questão não é se, mas quando e como) fará o mesmo em Taiwan e porque deseja manter atores externos afastados de seus assuntos internos, como Hong Kong, Xinjiang e o Tibete.
Mas é claro que a China está desconfortável com o tamanho do estrago que a guerra na Ucrânia provocou na economia global. Xi equilibra-se como pode: a fragilidade russa, quase dependente neste momento de Pequim, não é de todo ruim para seu poder emergente. Ao mesmo tempo, não interessa à China uma Europa, cliente de seus produtos, em maus lençóis. E muito menos passar a ideia às potências ocidentais de que irá prestar ajuda militar a Moscou, o que elevaria o risco de um conflito direto com os Estados Unidos.
A China tem seus próprios interesses: sua economia, a segunda maior do mundo, deve ultrapassar a dos Estados Unidos na próxima década, e, hoje, o eixo de poder global desloca-se para o Oriente. O país busca parcerias com vizinhos - ao que a ação russa na Ucrânia é vista como uma ameaça também aos interesses dessas pequenas nações.
Xi e Putin, entretanto, falam no mesmo tom em relação à ideia de que o Ocidente está decadente. E uma aliança entre os dois faz mover placas tectônicas da geopolítica. No encontro desta quinta-feira (16), Xi disse que a China trabalha com a Rússia, ao que Putin afirmou que seu país apoia a China em relação a Taiwan.
É o suficiente, no momento, para que se preveja turbulências no horizonte, ou, nas palavras do primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, "uma tempestade se formando".