Um dos pontos que entravam a negociação para um cessar-fogo na guerra atual é a exigência da Rússia de que a Ucrânia se torne um país "neutro", espelhando modelos como da Suécia e da Áustria. Mas o que são esses modelos? E o que a Ucrânia pensa sobre isso?
Primeiro, falemos sobre a Suécia. O país, que há mais de 200 anos não entra em conflito com nenhum outro, adotou essa posição de neutralidade, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim dos combates na Europa e, enquanto o mundo se dividia em dois polos de poder (Estados Unidos e URSS) durante a Guerra Fria, a Suécia também adotou posição semelhante, integrando-se ao Movimento Não Alinhado (com nenhum dos lados).
O país integra a União Europeia (UE), mas não faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Logo, em caso de um ataque ao território sueco, por exemplo, a aliança militar não seria obrigada a defendê-lo.
Duas questões importantes: o fato de a Suécia ser neutra não significa que não tenha forças armadas. Ao contrário, tem tecnologia de ponta na indústria militar. Os caças Gripen, que o Brasil comprou, por exemplo, são suecos. Outro ponto: hoje em dia, a Suécia não é, assim, tão neutra: o país aumentou as ligações com a Otan nos últimos anos e participa com frequência de manobras militares com a aliança ocidental. Mas o atual governo socialdemocrata tem rejeitado os pedidos para que o país integre formalmente a Otan. Em uma amostra de como a invasão russa na Ucrânia está desestabilizando o sistema de segurança europeu (tema de uma futura coluna), o país planeja aumentar seus gastos militares (reduzidos drasticamente no início de 2010). Pensa em comprometer 2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2030, mesmo nível dos membros da Otan.
Sobre a Áustria, o tema é um pouco mais complicado. O país foi palco de diversos conflitos e aliado do nazismo antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Ao ser ocupada pelos aliados, após o fim do conflito, teve um destino diferente da Alemanha, entretanto. Não foi dividida em áreas de influência. Mas se tornou, desde 1955, uma espécie de "zona tampão" entre os dois blocos (americano e soviético) na Guerra Fria.
O país faz de sua neutralidade uma política de Estado. Ou seja, a leva muito a sério. Essa condição, a exemplo da Suíça, faz da Áustria palco de importantes negociações entre forças beligerantes. Em 1961, sediou um encontro entre o presidente americano John F. Kennedy e o líder soviético Nikita Khrushchov, e, tempo depois, em 1979, entre Jimmy Carter e Leonid Brejnev.
Também tem um orçamento militar pequeno. Gasta 0,7% do PIB em defesa. Como a Suécia, é membro da UE, mas não integra a Otan (embora seja parceria e participe de operações sob mandato da ONU).
E a Ucrânia, o que pensa desses modelos?
O presidente Volodimir Zelensky tem rejeitado essa proposta russa, porque entende que as demandas de segurança do país são diferentes das de Áustria e Suécia. E é verdade. A Ucrânia não pertence à UE, que, embora não seja uma instituição militar, confere certa afinidade e solidariedade entre os membros. A invasão russa também mostrou as fragilidades do país diante dos interesses russos. O governo ucraniano diz que precisa de "garantias de segurança absolutas" por parte da Rússia.
- A Ucrânia está agora em um estado de guerra direta com a Federação Russa. Portanto, o modelo a seguir só pode ser o ucraniano - afirmou o assessor de Zelensky e um dos negociadores Mikhail Podoliak.