Em guerras, algumas cidades costumam se tornar símbolo de devastação provocada pelo conflito e sucumbem sob a ira de governantes: foi assim em Dresden, Varsóvia, Stalingrado, Sarajevo, Fallujah e Alepo. Mairupol, na Ucrânia, ingressou nos últimos dias para essa galeria da infâmia.
Algumas das imagens mais dramáticas do atual conflito vem de lá. Desde o início do cerco, em 28 de fevereiro, não há um dia sequer que Mariupol seja poupada.
Os civis que ainda estão na cidade sofrem dificuldades para deixar o local, porque tropas russas interceptam qualquer tipo de saída e chegada. Com isso, a população não tem acesso a comida, água e eletricidade. Foi também em Mariupol que uma maternidade e um hospital infantil foram atacados. No dia da ofensiva, uma mulher grávida foi fotografada snedo carregada por voluntários em uma maca, com as mãos abaixo da barriga. Ela tinha um sangramento nos membros inferiores e ferimentos no rosto. Agora, sabe-se que ela morreu. Teve a pélvis esmagada e o quadril descolado. O bebê foi retirado graças a uma cesariana, mas não tinha sinais vitais.
O governo ucraniano diz que cerca de 2,5 mil moradores de Mariupol morreram até agora.
Mas por que Mariupol padece sob a ira de Vladimir Putin? Simples. Com 450 mil habitantes, a cidade está em uma localização estratégica: fica a 55 quilômetros da fronteira com a Rússia e a 85 quilômetros do reduto separatista de Donetsk. Além disso, é uma grande cidade industrial e, por seu porto, no Mar de Azov, passam exportações de cereais e aço.
Mas, mais importante, é o aspecto geopolítico: se conquistar Mariupol, Putin terá um corredor terrestre entre a Rússia e a Crimeia, território ocupado em 2014. Passando pelo Donbass. Haverá continuidade territorial entre essas três áreas - algo que a Rússia não tem até agora. A única ligação entre o território russo e a Crimeia, até agora, é uma ponte de 19 quilômetros construída pelo governo Putin e inaugurada em 2018 no estreito de Kertch, entre o Mar de Azov e o Mar Negro.