Há vários pontos de tensão no mundo - as Coreias, o Mar do Sul da China, o Oriente Médio -, mas, se há um lugar onde o risco de guerra é real em 2022, esse é o Leste Europeu.
Em 26 de dezembro passado, o mundo lembrou os 30 anos do colapso da URSS, que encerrou a Guerra Fria, a era bipolar. A crise econômica, a perda das repúblicas, as guerras mergulharam a Rússia em uma década perdida, nos anos 1990, enquanto os Estados Unidos se consolidavam como superpotência. Ao mesmo tempo, a figura de Vladimir Putin emergia como político forte, capaz de reposicionar o país como potência. E foi assim que o urso foi acordando da hibernação: a Rússia hoje está longe de ser uma China em termos econômicos, mas do ponto de vista gepolítico e militar é o que impõe os maiores desafios aos interesses estratégicos americanos no planeta. Não à toa o presidente Joe Biden tem adotado uma postura muito mais crítica com Moscou do que com Pequim, encerrando 2021 com ameaças de novas sanções.
Putin nunca engoliu a aproximação do Ocidente de sua área de influência - três ex-repúblicas soviéticas (Letônia, Estônia e Lituânia) ingressaram no guarda-chuva da União Europeia (UE) e, a partir de 1999, 10 países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia ingressaram na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em alguns casos é mais do que traição aos olhos do Kremlin. Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia fazem fronteira com a Rússia - o que é uma ameaça real ao espaço vital de Moscou.
Militarizada e vitaminada, Putin não irá tolerar, de novo, que a Ucrânia caia nos braços da UE. Prova disso é a mobilização de tropas no leste do país. É um sinal ao Ocidente, mas também aos políticos ucranianos pró-Ocidente e a sua população. Em 2014, o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, foi derrubado pela população após suspender a assinatura de um tratado econômico com a UE e fechar um acordo com os russos. Putin reagiu anexando a Crimeia sob o olhar leniente da Otan. Até uma ponte foi construída ligado a Rússia continental à península. Donetsk e Lugansk, outras duas regiões de maioria étnica tussa, facilitaram as coisas para Putin, declarando independência. Podem ser o primeiro passo de uma nova ação. Não é uma questão de "se", mas de "quando" o Kremlin buscará ampliar seu colchão de proteção. Alguns analistas apostam nas primeiras semanas de 2022.