A África do Sul pagou um preço alto pela sua ciência de ponta: revelou ao mundo a descoberta de uma nova variante, a Ômicron. Desde o início da pandemia, em 2019, os pesquisadores sul-africanos desenvolveram um eficiente processo de sequenciamento genético de novas cepas.
Quando perceberam o aumento impressionante de casos na província de Gauteng, onde ficam Johanesburgo e a capital, Pretória, veio o alerta. O criterioso trabalho científico identificou que aqueles índices de transmissibilidade não eram compatíveis com a Delta, a variante predominante até então, e outra letra grega, Ômicron, passou a fazer parte do nosso vocabulário.
Ao receber a informação, o governo sul-africano poderia tê-la ocultado da Organização Mundial da Saúde (OMS), e, assim, do mundo inteiro. Mas não, a divulgou em 25 de novembro. O resultado veio em forma de reação em cadeia: um a um, os países foram recrudescendo fronteiras, banindo voos procedentes da África e xenofobia.
A Ômicron foi o balde de água fria no fim de ano, quando a humanidade, agora com vacina, renova a esperança de dias melhores.
Passado pouco mais de um mês da descoberta, é também da África do Sul que emergem boas notícias. Com a redução dos casos, o país entende que o pico da Ômicron já passou, e, nesta quinta-feira (30), o governo suspendeu o toque de recolher. O número de novos casos caiu 29,7% na semana encerrada em 25 dezembro, na comparação com o total de registros na semana anterior.A média diária caiu de 23 mil, em 18 de dezembro, para 11,5 mil. Em comunicado oficial, o governo informou que, mesmo a variante sendo altamente transmissível, houve taxas mais baixas de hospitalização do que em ondas anteriores.
O país tem pouca cobertura vacinal (apenas 26% da população está completamente imunizada, ainda assim uma das melhores marcas da pobre África). Vários pesquisadores levantam hipóteses sobre o impacto da menor idade média da população sul-africana e os altos níveis de imunidade adquiridos durante as ondas das variantes delta e beta na incidência. Desde o início da pandemia, a África do Sul computou 3,4 milhões de casos e 91.061 mortos, segundo a Universidade Johns Hopkins.
- A velocidade com a quarta onda provocada pela Ômicron, cresceu, chegou ao pico e depois entroiu em declínio impressionante - disse fareed Abdullah, do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul. - Pico em quatro semanas e queda súbita em duas. oi uma tempestade mais do que uma onda - acrescentou.
É possível que essa tendência de queda dos registros da Ômicron se repita nos demais países que enfrentam a Ômicron? Sim. Entretanto, entraremos em 2022 sem saber. Aprendemos nesses três anos de pandemia que o coronavírus se manifesta de forma diferente, dependendo de especificidades epidemiológicas e demográficas.A última semana do ano foi de números recordes de covid-19 no planeta - pela primeira vez desde o início da pandemia, o mundo registrou mais de 1 milhão de casos em 24 horas (na terça-feira). Estados Unidos, Dinamarca, França, Noruega e Reino Unido bateram recordes, embora se perceba leve desaceleração neste último. Ela já é a variante dominante nos EUA e na França, e pode se tornar também em toda a Europa na primeira semana do ano.