Um brasiliense que estudou no Colégio Marista Champagnat, em Porto Alegre, e formou-se em biotecnologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é o responsável pela descoberta da variante Ômicron, que preocupa o mundo.
Túlio de Oliveira, diretor do Centro para Respostas a Epidemias e Inovação (Ceri), na África do Sul, lidera um consórcio de cerca de 50 cientistas que colocaram o país sul-africano na ponta dos estudos genômicos do coronavírus, capazes de identificar novas cepas.
No caso da Ômicron, por exemplo, os pesquisadores passaram a desconfiar de uma variante no momento em que os casos de covid-19 saltaram de 500 para 5 mil na média móvel de sete dias. O alerta ao mundo foi dado em 25 de novembro.
O preço pago pela África do Sul por ter sido o primeiro país a identificar a nova cepa e comunicar a Organização Mundial da Saúde (OMS) da descoberta foi o isolamento internacional - ainda que a Ômicron tenha sido registrada, 24 horas depois, em outros lugares tão distantes entre si quanto Israel, Hong Kong e Bélgica. Vários países de Europa, Ásia e América do Norte recrudesceram fronteiras, restringindo voos para o sul da África e proibindo a entrada de viajantes procedentes de lá.
Oliveira, desde então, tornou-se uma voz ativa contra o que vê como punição à África do Sul por ser transparente ao não esconder o surgimento da variante. O país registra apenas 24,68% da população imunizada - situação pouco melhor do que o restante do continente, cuja média não passa de 10%: "Vou começar a falar como Greta Thunberg (jovem militante ambientalista). Blá-blá-blá para todas as promessas de líderes mundiais. Prometeram muitas vezes vacinas, apoio, antivirais etc para países pobres na pandemia, e ainda estamos esperando, enquanto a pandemia cresce sem controle", disse nas redes sociais.
Em outro post, fez um apelo a bilionários do planeta, citando Elon Musk (Tesla), Bill Gates (Microsoft), Jeff Bezos (Amazon) e Warren Buffert (Berkshire): "Em breve, vamos ficar sem reagentes, uma vez que aviões não não estão chegando à África do Sul. Será péssimo se não pudermos responder às questões que o mundo precisa saber sobre a Ômicron em razão do banimento das viagens".
Filho de pai carioca e mãe nascida em São Tomé e Príncipe, um arquipélago do Atlântico, Oliveira viveu em vários Estados brasileiros na infância e adolescência, até a família fixar residência em Porto Alegre. Desde 1997, mora na África do Sul, onde construiu carreira. Antes da covid-19, estudava o vírus HIV, destacando-se com artigos em importantes publicações internacionais, como a revista Nature. Ele tem mestrado e doutorado na área de biociências na Universidade de KwaZulu Natal (UKZN). O cientista vive atualmente perto de Durban, na costa leste do país, com a mulher e três filhos. A coluna pediu entrevista ao brasileiro, mas não havia recebido resposta até este domingo (5).