O acordo alcançado nesta quarta-feira (24) para a formação de uma coalizão na Alemanha, liderada pelo social-democrata Olaf Scholz, abre as portas para o primeiro governo europeu conectado com os desafios do século 21.
Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças, deve ser confirmado como sucessor de Angela Merkel nos próximos dias, provavelmente no início de dezembro.
Após várias semanas de negociações, o Partido Social Democrata (PSD), Os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP) chegaram ao acordo, na primeira coalizão tripla desde 1950 - que está sendo chamada de "coalizão semáforo" em razão das cores das legendas - vermelho (social-democrata), amarelo (liberais) e verde (dos ambientalistas).
E por que esse será um governo sintonizado com as demandas urgentes do mundo pós-pandemia? Por dois motivos principais: o primeiro deles pelo papel-chave que os Verdes terão no gabinete, com seus representantes ocupando importantes ministérios, como o das Relações Exteriores (que deve ficar com Annalena Baerbock), a nova pasta da Economia e Mudanças Climáticas, com Robert Habeck, além do Meio Ambiente e da Agricultura. Chama atenção a desvinculação do tema "mudanças climáticas" da pasta do Meio Ambiente e a conexão do assunto com Economia, indicando que um não caminha sem o outro.
Essa alteração, embora aparentemente sutil, partindo da maior economia da Europa não é pouca coisa e dá indicativos de que qualquer negociação no cenário internacional partirá de bases que terão a proteção ao ambiente e medidas responsáveis como ponto primordial - alerta para o Brasil e o Mercosul.
O segundo motivo é o fato de que as principais negociações para a formação do governo giraram em torno de como fazer uma transição verde. Não há dúvidas de que isso é necessário e urgente - mas os três partidos discordavam sobre a velocidade.
Somente na terça-feira (23), as legendas chegaram a um consenso sobre o tema: uma expansão maciça das energias renováveis deve constar no acordo. A meta será que, até 2030, as energias eólica e solar cubram 80% do consumo de energia na Alemanha e um terço dos carros sejam completamente elétricos. Pouco tempo depois, licenças para veículos com motor a combustão deverão deixar de ser concedidas. A coalizão também pretende antecipar o abandono da energia a carvão até 2038 (defendida pelos liberais) para 2030 (reivindicada pelos Verdes).
O tema do aquecimento global está no centro do novo governo, como o governo Joe Biden já o havia colocado nos Estados Unidos. Embora a Alemanha esteja muito à frente em temas ambientais do que a maioria das nações do globo, o governo Angela Merkel, nesses 16 anos, não conseguiu reduzir as emissões de carbono de forma considerável - a extinção das usinas nucleares, após o acidente em Fukushima, no Japão, pouco ajudou. Assim, o país é ainda um dos que mais emite carbono entre as nações europeias.
Não existe momento melhor para essa preocupação. 2021 ficará registrado como o ano em que o mundo teve a oportunidade de virar a chave para a economia verde, com impulso americano, COP-26 e grande pressão dos jovens, que não querem herdar o legado de uma geração que, embora tenha iniciado discussões sobre o tema, pouco fez de concreto para mudar a lógica do desenvolvimento às custas da natureza.