Os social-democratas do SPD, os Verdes e os liberais do FDP anunciam, nesta quarta-feira (24), um acordo para formar um governo de coalizão para a sucessão dos conservadores de Angela Merkel no poder na Alemanha.
Passados dois meses das eleições legislativas, marcadas pela derrocada do partido da chanceler, os social-democratas assumirão o poder com uma coalizão inédita no país.
À frente desta coligação, está o social-democrata Olaf Scholz, que deve tomar posse como chanceler provavelmente no início de dezembro.
A formação de um governo na Alemanha, após os 16 anos de Merkel, tranquilizará os países europeus, preocupados em ver a principal força econômica do continente sem ninguém no comando, no momento em que a pandemia da covid-19 ressurge no país.
Os principais ministérios do futuro governo de Olaf Scholz serão atribuídos ao presidente do FDP, Christian Lindner, que poderá assumir a pasta de Finanças, e aos líderes do Partido Verde. Annalena Baerbock seria a nova ministra das Relações Exteriores, e Robert Habeck, responsável pelo Clima.
Quem é o sucessor de Merkel
Atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Scholz, 63 anos, parece ter convencido boa parte do eleitorado, apresentando uma imagem de competência. Alvo de piadas por seu comportamento austero e discursos em tom de autômato que lhe valeram o apelido de "Scholzomat", o ex-prefeito de Hamburgo conseguiu, no entanto, se posicionar à frente de seus adversários em um contexto de crise da social-democracia em toda a Europa.
Em 2018, substituiu como ministro das Finanças o democrata-cristão ortodoxo Wolfgang Schaüble. O ministro rompeu com o tom frequentemente rude e moralista de seu antecessor, especialmente ante países do sul da Europa considerados frágeis na economia, mas não acabou com sua rigorosa gestão financeira.
Em nível local, o ex-prefeito, casado com uma militante do SPD, pode ter soado dispendioso ao fazer da infância e da habitação social prioridades de seu mandato em Hamburgo. Apesar de ter provocado a disparada do orçamento da cidade que governou entre 2011 e 2018, como ministro ele se aferrou a seu credo:
— Você não dá o que não tem.
Sua postura centrista o levou a ser marginalizado por algum tempo dentro do próprio partido. Em 2019, Scholz apresentou a candidatura para liderar o SPD, mas os militantes do partido escolheram dois quase desconhecidos mais à esquerda.
Scholz, no entanto, conseguiu recuperar espaço com a pandemia, quando não hesitou em romper com a ortodoxia orçamentária. Após uma década de acúmulo de excedentes, a Alemanha contraiu bilhões de euros em novas dívidas desde 2020, em detrimento de suas regras constitucionais rígidas.
— Tudo isto é caro, mas não fazer nada seria ainda mais caro — insistiu Scholz, contrário à redução do imposto sobre grandes fortunas prometida pelos conservadores e favorável ao aumento do salário mínimo.
Apesar de sua derrota em 2019, o SPD, um dos partidos mais antigos da Europa, escolheu Scholz como seu candidato para setembro, rejeitando as acusações de contra sua atuação na falência da empresa financeira Wirecard.