A provável ascensão dos Verdes como terceira força política da Alemanha é mais um sinal de que 2021 tem tudo para se tornar um ano de virada na consciência da comunidade internacional em relação às mudanças climáticas. Primeiro, foi a cúpula do clima liderada pelos Estados Unidos de Joe Biden, agora o triunfo dos ambientalistas na eleição de domingo (26) para a sucessão de Angela Merkel e até o final do ano a COP-26, de Glasgow.
A se confirmar os resultados das pesquisas de boca de urna, os Verdes dificilmente ficarão de fora de um novo governo, já que nem sociais-democratas nem conservadores conseguirão governar sozinhos. Isso significa que eles voltarão ao gabinete pela primeira vez desde que Joschka Fischer comandou o Ministério das Relações Exteriores, entre 1998 e 2005.
A emergência da crise climática está na cabeça dos alemães, como a principal preocupação, à frente até da covid-19, segundo levantamento do Forschungsgruppe Wahlen (47% contra 28%). Depois, vem a questão dos refugiados (13%), problemas sociais (12%) e previdência (10%). Para 81% dos alemães entrevistados pela ARD-DeutschlandTrend em julho, há "grande necessidade" de agir na proteção do ambiente.
Os alemães desde muito cedo aprenderam que questões climáticas não é simplesmente só discurso bonito. A redução de emissões de gases poluentes atinge em cheio a economia alemã. A transição energética, de uma economia que foi baseada até o final do século 20 em mineração e siderurgia, provocou impactos sociais elevados, como aumento do desemprego e redução de renda.
Ainda que, aqui fora, a gente tenha uma imagem de Alemanha campeã em questões ambientais, a verdade é que o país não tem feito o tema de casa à altura do esperado. A Alemanha ainda emite mais carbono por habitante do que qualquer outra grande nação da União Europeia (UE). O fechamento da indústria nuclear alemã, realizado por Merkel em 20111, após a tragédia em Fukushima, no Japão, não contribuiu. A crise de 2008 fez com que Merkel, uma entusiasta da redução de gases poluentes nos anos 1990 e 2000, recuasse.
Embora os Verdes levantem a bandeira do ambientalismo há muitas décadas, a preocupação dos cidadãos com os temas empurra os principais partidos a incluírem a questão em suas agendas. O que os diferencia é a velocidade e os meios para se alcançar uma economia sustentável. Uma transição mais rápida, por exemplo, como querem os ambientalistas, com eliminação dos motores a combustão até 2030, pode gerar alto desemprego na indústria automotiva, segundo os conservadores da CDU, de Merkel e Armin Laschet, que defendem incentivo às fabricantes, com dedução de impostos, para quem acelerar a transição rumo à energia limpa.
Já os sociais-democratas, do favorito Olaf Scholz (SPD), preferem investir em infraestrutura e rede elétrica de alto desempenho para acelerar a transição verde.