Viveremos pelo menos duas semanas de expectativa até que cientistas consigam descobrir se as vacinas contra a covid-19 atualmente disponíveis são eficazes contra a nova variante do coronavírus.
A cepa sul-africana, que acumula 30 mutações, é um balde de água fria no mundo no momento em que, do Oriente ao Ocidente, em maior ou menor grau, governos começavam a reabrir economias e a relaxar medidas restritivas. Por isso, as bolsas de valores despencaram, com o mercado temendo que a nova variante abale o clima de "o pior já passou" e que medidas de contenção sejam necessárias.
O anúncio da cepa chega não apenas pegando o mundo no contrapé, ainda que os infectologistas tenham alertado desde sempre sobre o caráter traiçoeiro do vírus. A variante nos alcança com potencial de tempestade perfeita: quando o mundo volta a se reconectar por meio do tráfego aéreo internacional, quando as fronteiras voltaram a cair, quando a Europa vive novos picos de contágio ainda em razão da variante Delta, no momento em que as campanhas de imunização estão estagnadas, com aumento das manifestações antivacina e com o esgotamento da paciência das populações com retomada restrições de deslocamento.
Ainda que o Brasil em geral e o Rio Grande do Sul em particular estejam com números satisfatórios de imunização, ninguém estará seguro enquanto uma única pessoa estiver sem o imunizante mundo afora - seja na Ásia, na África, na Europa ou na América. Como escrevi nesta coluna, os baixos índices das campanhas, como nos Estados Unidos e na maioria das nações da Europa, tornam regiões gigantescas viveiros potenciais de novas variantes. Calhou de ser na África do Sul - mais por o país ter investido muito no sequenciamento e controle de novas cepas do que, propriamente, ser o berço do primeiro novo caso. Prova disso é que a B.1.1.529 (batizada como Omicron pela Organização Mundial da Saúde) foi localizada também em Botsuana, Hong Kong, Bélgica e Israel.
Ainda que possa não ter surgido na África do Sul - e o país apenas ter detectado primeiro a nova cepa -, a omicron circula pelo continente (o caso belga foi de alguém que viajou ao Egito, por exemplo).
A África tem o menor índice de imunização do planeta. Ou seja, onde muita gente está vulnerável.
A vacinação na África do Sul e em Botsuana é muito baixa em comparação com os demais países onde a nova cepa foi localizada - 24% no primeiro e 19% no segundo. A Bélgica tem 74,59% da população imunizada, em Hong Kong não há dados individuais (a China toda registra 74,53%), e Israel, acumula 62,12% da população com as duas doses.