A identificação de uma nova variante do coronavírus deixa o mundo outro passo longe do controle da pandemia. Inicialmente denominada B.1.1.529, a nova cepa foi nomeada de Ômicron e classificada como "variante de preocupação" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 26 de novembro.
Na tentativa de frear a disseminação da cepa, países fecham fronteiras para viajantes vindos de países sul-africanos – onde a variante foi detectada –, retomam a testagem de larga escala e reforçam a necessidade de vacinação.
Entre as incertezas que beiram a nova variante estão se ela é capaz de comprometer a eficácia das vacinas, se é mais transmissível ou com potencial de ser mais agressiva. Abaixo, confira um perguntas e respostas sobre o que já se sabe sobre a Ômicron.
Onde surgiu a nova variante?
A Ômicron foi detectada inicialmente em Botsuana, no sul do continente africano. Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, explica que a cepa apareceu de forma mais expressiva em uma província no nordeste da África do Sul, em um surto entre estudantes universitários. Ao longo das últimas três semanas, o número de casos aumentou – a Ômicron já foi confirmada nos cinco continentes –, chamando a atenção de especialistas que integram o consórcio de universidades responsável pela vigilância genômica sul-africana.
Ela é mais transmissível do que as outras variantes?
A velocidade com que novos casos diários de covid-19 estão surgindo na África do Sul, muitos relacionados à Ômicron, sugere que isso se deve à forte capacidade de transmissão da cepa. A taxa diária positiva para o coronavírus aumentou rapidamente na semana passada, passando de 3,6% na quarta-feira, para 6,5% na quinta-feira e para 9,1% na sexta-feira, de acordo com dados do Ministério da Saúde do país.
— É um vírus bem diferente. Por enquanto, o que sabemos é que deve ter uma capacidade de transmissibilidade alta porque essa região (África do Sul) vinha sendo muito impactada pela Delta e, mesmo assim, ele apareceu — complementa, em alusão ao “combate” que se estabelece entre variantes com o surgimento de uma nova em determinada localidade.
A Ômicron é uma variante que passou por mutações?
De acordo com o coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, os cientistas encontram ao menos 32 alterações (incluindo mutações) no gene da proteína Spike, que está relacionada à capacidade de entrada do coronavírus nas células do corpo humano. O sistema de defesa do organismo, bem como a maior parte das vacinas em uso contra a covid-19, têm a Spike como alvo para conter a ação do vírus.
– Para as pessoas terem uma ideia, é mais ou menos o número de mutações que encontramos, às vezes, no genoma inteiro de uma linhagem nova de variante de sars-cov-2.
A primeira imagem da nova variante, publicada pelo hospital Bambino Gesù, em Roma, na Itália, apresenta muito mais mutações do que a cepa Delta. A publicação assinada pela equipe de pesquisadores do hospital diz que a "imagem" tridimensional é parecida com uma cartografia:
O surgimento da variante dá a ideia de que pode ocorrer uma aceleração no processo de mutações do sars-cov-2?
— Já encontramos um incremento na velocidade de mutações no Rio Grande do Sul, não tão violento quanto esse da África do Sul. Mas, sim, essa variante pode apontar para uma onda de aumento de velocidade. É algo que precisamos avaliar também com outros achados nas próximas semanas. Se isso, de fato, se consolidar, seria uma repetição do que vimos no ano passado — comenta Spilki, referindo-se a variantes como Alfa, Beta e Delta, por exemplo.
A Ômicron pode comprometer a eficácia das vacinas contra a covid-19?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que ainda há incertezas em relação à efetividade das vacinas, o nível de transmissibilidade da variante e a capacidade da Ômicron em causar casos graves da covid-19. O que já se sabe é que quase metade dos primeiros atendidos na África do Sul estava vacinado, assim como o caso do paciente positivo para a nova cepa em Israel. É importante salientar que nenhuma vacina protege 100% contra infecções do coronavírus, mas todas são capazes de evitar casos graves da doença.
A nova variante causa sintomas mais graves de covid-19?
A médica sul-africana Angelique Coetzee, que já tratou cerca de 30 pacientes com a variante Ômicron, afirmou que as pessoas apresentaram apenas sintomas leves. Por enquanto, todos estão passando pelo período de recuperação sem a necessidade de internação. Segundo ela, o que levou as pessoas para atendimento foi "um grande cansaço". Alguns também sofriam de dores musculares, tosse seca ou desconforto na garganta. Poucos tiveram febre baixa.
Já existem casos no Brasil?
Na tarde de terça-feira (30), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que dois casos de covid-19 causados pela variante Ômicron foram identificados em São Paulo, em exames preliminares. Um homem viajou à África do Sul e passou o vírus para a esposa. O homem e a mulher, sem idade revelada, forneceram amostras na última quinta-feira (25) para o Hospital Albert Einstein, que realizou o sequenciamento genético e confirmou preliminarmente a presença da variante identificada primeiramente em Botsuana.