Embora orbite as reuniões, o tema da proteção ambiental não é prioridade este ano do encontro de Davos, que começou nesta segunda-feira (25) pela primeira vez de forma virtual. Com um mundo a reconstruir, em meio à pandemia, a economia no pós-coronavírus será o assunto central do Fórum Econômico Mundial, que normalmente ocorre nos Alpes Suíços.
Mesmo assim, o Brasil tem a oportunidade, se quiser, de mostrar ao mundo um outro discurso sobre a proteção da Amazônia. Será a primeira vez que o governo Joe Biden participará de um encontro internacional - e, em uma demonstração do peso que a nova Casa Branca dá ao tema, enviou John Kerry (assessor especial do presidente para mudanças climáticas) para os debates. Também os EUA têm sua própria tarefa nas reuniões: resgatar a credibilidade americana na mesa de diálogo (o primeiro passo foi dado com o retorno ao Acordo de Paris, no primeiro dia do novo mandato), onde estarão em peso europeus e asiáticos.
Obviamente, os olhos estarão voltados para EUA - e também para a China. Mas a participação brasileira também atrairá a atenção. Nenhum outro assunto - nem os impactos da pandemia no Brasil - desperta tanto preocupações lá fora do que a situação da Amazônia. E também nenhum outro tema degrada tanto a imagem do país quanto as fotos de queimadas e os dados da destruição da floresta.
Sem a presença do presidente Jair Bolsonaro, o Brasil será representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que comandará o painel que irá discutir o financiamento da transição da Amazônia para uma bioeconomia sustentável, na quarta-feira (27). Além de Mourão, estão previstos na mesa (virtual) Gustavo Montezano, presidente do BNDES, Candido Bracher, do Itaú Unibanco, e Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale, além do presidente da Colômbia, Iván Duque, e de Nicole Schwab, colíder de Soluções de base natural do Fórum Econômico Mundial.
A fala de Mourão também será a primeira manifestação brasileira em fóruns internacionais desde as críticas mais recentes do presidente francês, Emmanuel Macron, segundo o qual "depender da soja brasileira é ser conivente com o desmatamento da Amazônia", frase que gerou respostas inflamadas de produtores agrícolas brasileiros, do vice-presidente Hamilton Mourão e do Ministério da Agricultura.
A proteção à Amazônia se tornou um dos temas principais da relação Brasil-EUA, com a ascensão do novo governo democrata à Casa Branca, no dia 20. Os sinais emitidos por Biden e assessores são de que esse será o ponto de pressão americana sobre o Brasil. Diplomatas avaliam que a nova administração vinculará a política ambiental às relações comerciais, atrelando acordos e parcerias a políticas de proteção ao ambiente. Para dizer o mínimo. Os mais críticos afirmam que o Brasil pode sofrer represálias se não mudar sua política para o ambiente.
O primeiro sinal de alteração de tom no Planalto foi dado na carta enviada pelo presidente Jair Bolsonaro parabenizando Biden, no dia da posse, e se comprometendo a trabalhar junto com os EUA em questões ambientais. Davos pode ser um segundo sinal, com maior ressonância internacional dados a importância do evento e da plateia "presente", ainda que virtualmente.