O presidente da França, Emmanuel Macron, fez críticas ao desmatamento da Amazônia e citou especificamente a soja brasileira, relacionando-a ao problema ambiental. "Continuar a depender da soja brasileira seria ser conivente com o desmatamento da Amazônia", afirmou Macron, em sua conta oficial no Twitter.
A publicação dele é acompanhada de um vídeo, no qual comenta a questão a repórteres.
— Nós somos coerentes com nossas ambições ecológicas, estamos lutando para produzir soja na Europa — afirma o presidente francês.
A declaração é dada no momento em que a União Europeia e o Mercosul negociam um acordo comercial, mas o fracasso brasileiro na proteção ambiental, na opinião de algumas autoridades europeias, seria um entrave para avançar no tema.
No vídeo, Macron fala em "não depender mais" da soja brasileira e passar a produzi-la no continente europeu.
Repercussão
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disse, em nota, "lamentar que o presidente da França, Emmanuel Macron, busque justificar sua decisão de subsidiar os agricultores franceses atacando a soja brasileira". "Como bem sabe Macron, a soja produzida no bioma Amazônia no Brasil é livre de desmatamento desde 2008, graças à Moratória da Soja, iniciativa internacionalmente reconhecida, que monitora, identifica e bloqueia a aquisição de soja produzida em área desmatada no bioma, garantindo que existe risco zero do envio de soja de área desmatada (legal ou ilegal) deste bioma para mercados internacionais", disse a associação, no comunicado.
Histórico
Não é a primeira vez que Emmanuel Macron faz duras críticas ao governo do Brasil tendo como pano de fundo a questão ambiental. Em agosto de 2019, ele afirmou que a discussão do estatuto internacional para a floresta "se impõe", e criticou a decisão de Bolsonaro de sair do acordo de Paris. No dia 22 daquele mês, Macron disse que as queimadas na Amazônia geraram uma crise internacional e convocou os membros do G7 a discutir soluções para o tema.
Bolsonaro reagiu às críticas e afirmou, no Twitter, que "sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21". Macron rebateu:
— Ele me prometeu, com a mão no peito (na cúpula do G20, em julho, no Japão), respeitar seus engajamentos ambientais. Dias depois, demitiu cientistas de seu governo — disse o francês nesta segunda-feira, referindo-se à demissão do presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, após a divulgação de estatísticas sobre o desmatamento que desagradaram ao governo.
Três dias depois, o perfil oficial de Bolsonaro em uma rede social endossou um comentário ofensivo à esposa do líder francês. Na imagem, se vê uma foto do presidente brasileiro e de sua mulher, Michelle, abaixo de um retrato de Macron e de sua esposa, Brigitte. Ao lado das fotos dos casais, há os dizeres:
"Entende agora pq Macron persegue Bolsonaro?" (sic). O perfil do presidente brasileiro responde: "Não humilha cara. kkkkk" (sic).
No dia 26 de agosto de 2019, Macron voltou a subir o tom contra Bolsonaro dizendo esperar que "os brasileiros tenham logo um presidente à altura" do cargo. Em entrevista durante a cúpula do G7, o chefe de Estado disse que Bolsonaro fez "comentários extraordinariamente desrespeitosos" sobre a primeira-dama francesa.
— O que eu posso dizer a vocês? É triste, é triste, mas é em primeiro lugar triste para ele e para os brasileiros — disse Macron.