Em reação a declarações do presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o desmatamento na Amazônia e a produção de soja no Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta quarta-feira (13) que o mandatário francês desconhece a produção da oleaginosa brasileira.
Presidente do Conselho Nacional da Amazônia, Mourão destacou que a produção agrícola da região amazônica é "ínfima" e que Macron apenas "externou interesses protecionistas dos agricultores franceses".
Nas redes oficiais, o presidente francês afirmou que "continuar a depender da soja brasileira seria ser conveniente com o desmatamento da Amazônia". No vídeo publicado em sua conta oficial do Twitter, Macron fala em "não depender mais" da soja brasileira e produzir o grão na Europa.
— Nós somos coerentes com nossas ambições ecológicas, estamos lutando para produzir soja na Europa — afirmou.
Questionado sobre as declarações nesta manhã, Mourão afirmou, em francês, que Macron não estava bem.
— Monsieur Macron? Monsieur Macron ne pas bien. Monsieur Macron desconhece a produção de soja no Brasil. Nossa produção de soja é feita no cerrado ou no sul do país. A produção agrícola na Amazônia é ínfima — declarou Mourão para jornalistas na chegada à vice-presidência.
O vice-presidente destacou que o Brasil tem menos de 8% da sua área dedicada à agricultura, enquanto a França tem mais de 60%. Apesar disso, ele avaliou que o país europeu não tem condições de competir com o Brasil na produção de soja. Na avaliação de Mourão, a fala do presidente francês não deverá influenciar outros líderes mundiais.
— Nesse aspecto, na questão da produção agrícola damos de 10 a 0 neles, franceses. Nada mais, nada menos, Macron externou interesses protecionistas dos agricultores franceses, faz parte do jogo político. Acho que foi discurso interno — disse.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, quase 20% das exportações para a União Europeia, bloco do qual os franceses fazem parte, são de soja e farelo da oleaginosa produzidos pelo Brasil.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 27,1 milhões do grão para a França, além de US$ 544 milhões de farelo de soja, de um total de US$ 1,983 bilhão em embarques para o país europeu. A quantidade recebida pela França pode ser ainda maior considerando dados agregados da produção recebida por portos da Espanha e Países Baixos e depois escoada para demais países europeus.
Procurados pela reportagem, os ministérios da Economia e da Agricultura disseram que não comentariam as declarações de Macron. Questionada, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) orientou a procurar novamente o Ministério da Agricultura, que até a publicação deste texto ainda não havia respondido ao pedido de manifestação.