Não é de hoje que o presidente francês, Emmanuel Macron, dispara críticas aos cuidados adotados pelo Brasil com o ambiente, sobretudo na Amazônia. Mas na declaração mais recente, postada no Twitter, errou o tom. "Continuar a depender da soja brasileira seria ser conivente com o desmatamento da Amazônia", escreveu.
A associação feita de forma generalizada faz com que incorra em erros e coloca em xeque a credibilidade. Os problemas existem — negá-los é outra forma imprecisa e igualmente prejudicial de lidar com a questão — , mas estão longe de resumir a situação do país como um todo.
Dados compilados pela Embrapa Territorial mostram que, apesar do tamanho continental, de 851,6 milhões de hectares, o Brasil tem 66,3% da área de vegetação protegida e preservada. Dessa fatia, 2o,5% estão em imóveis rurais. As lavouras e as florestas plantadas ocupam 7,8% da área total do território brasileiro.
— Essa afirmativa é descabida. Normalmente reflete uma resposta aos seus próprios eleitores, é uma questão política interna. Não dá para ser levada a sério — afirma o deputado Alceu Moreira, atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Eleito para comandar a frente na gestão que se inicia no próximo mês, o deputado Sergio Souza pondera que é preciso respeitar as posições de um estadista, de um presidente como o da França, mas avalia que Macron "tem extrapolado nas suas colocações em relação ao Brasil".
— É sempre dele que sai (declaração). Começa a querer defender o agricultor da França e faz declarações equivocadas. Porque a soja brasileira não sai da Amazônia. O que ele quer é uma guerra comercial — reforça Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e diretor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O dirigente acrescenta que a pressão é para que a União Europeia não sele o acordo comercial com o Mercosul, anunciado em 2019. Em representatividade comercial, eventual suspensão das compras feitas pela França de soja brasileira teria impacto mínimo. Os principais compradores estão no mercado asiático, com a China, por exemplo, sendo o destino de 73,2% da grão em grão exportada.