A três semanas da eleição, os Estados Unidos vivem a antessala da disputa. O Senado iniciou, ontem, o processo de confirmação da juíza Amy Coney Barrett, nomeada pelo presidente Donald Trump para a Suprema Corte. O debate é, na prática, um microcosmos das discussões centrais dos EUA rachados ideologicamente.
Amy Barret, com perfil conservador, foi escolhida em 26 de setembro pelo presidente para suceder à ícone feminista e progressista Ruth Bader Ginsburg, que morreu em decorrência de câncer. Segundo a Constituição, ela deve obter o aval do Senado para entrar no templo do direito americano. Atualmente, cinco dos nove membros são conservadores. A escolha de Barret desequilibraria ainda mais a balança: se for aprovada, serão seis conservadores contra três progressistas na máxima Corte de Justiça americana.
Sua vitória representará em boa parte o pensamento americano do momento em temas como aborto, questões LGBT+ e porte de armas. Mais: pode definir a reeleição de Trump, caso a disputa com Joe Biden seja judicializada – o que é bem provável.
Por isso, situação e oposição veem na aprovação do nome de Barrett uma batalha que antecede a disputa no voto.Os democratas e seu candidato Biden desejam que a vaga vitalícia e extremamente influente seja preenchida após as eleições, mas Trump quer avançar o mais rápido possível para satisfazer os eleitores da direita religiosa.
Ontem, o presidente do Comitê Judiciário do Senado, o republicano Lindsey Graham, deixou clara a intenção de sua bancada: “Ajudar o presidente Trump”. Os republicanos têm maioria de 53 dos cem assentos na Câmara Alta. Isso significa que a juíza possivelmente será aprovada – Barrett é bem vista nos círculos cristãos tradicionais, com os quais compartilha valores, começando com uma oposição declarada ao aborto e uma adesão ao conceito de casal como a união “de um homem e uma mulher”, conforme carta enviada ao Papa em 2015.
Somente a covid-19 poderia prejudicar o calendário: três senadores republicanos, Mike Lee, Thom Tillis e Ron Johnson, testaram positivo para o vírus e estão isolados. É bom os democratas terem outras cartas na manga do que depender da pandemia. Dificilmente irão barrá-la. Se ela vestir a capa preta da máxima instância judicial americana, a primeira batalha da eleição estará perdida.