Os oito dias em que Donald Trump ficou afastado da campanha devido à covid-19 podem ter sido a pá de cal nas suas intenções de reeleição.
Há muito trabalho a fazer para recuperar o tempo perdido. Sem poder sair da Casa Branca, o presidente trouxe a campanha para dentro da residência: discursou durante 16 minutos no balcão da residência oficial no sábado (10), sem máscara, para um grupo de militantes convidados para uma aglomeração em frente ao salão sul. Na fala, acusações contra o "vírus chinês", apoio à polícia, em oposição aos protestos contra o o racismo, e "lei e ordem". Nenhuma novidade. Nesses dias em que virou paciente, ele não conseguiu transformar sua doença em vantagem política, no mínimo, desenvolver alguma empatia em relação às famílias de 7,7 milhões de infectados e 214 mil mortos americanos da covid-19 ou se humanizar.
Se continuar assim, será muito difícil virar o jogo nas três semanas que faltam para a eleição de 3 de novembro. Segundo o site FiveThirtyEight, Joe Biden atingiu o maior patamar de probabilidade de vitória, com 86%, contra 14% de Trump - em agosto, era de 67%. Em 10 dias, a diferença entre os dois aumentou em três pontos e é a maior desde o início das pesquisas (52,1% contra 41,9%, conforme a média dos levantamentos).
Alguém pode dizer: "Mas Hillary Clinton também estava à frente, a essa altura do campeonato, em 2016, e perdeu a eleição (no colégio eleitoral, não no voto popular)". Sim, mas a vantagem da democrata, nesse mesmo período, era de apenas cinco pontos percentuais (45% a 40% para Trump).
Há um segundo ponto: Biden está à frente em vários estados-pêndulos, aqueles que ora votam nos democratas, ora nos republicanos. Essa vantagem, também segundo o FiveThirtyEight, que trabalha com projeções, daria hoje a Biden 375 delegados no colégio eleitoral contra 163 de Trump - são necessários no mínimo 270 para vencer.
Tudo pode mudar em três semanas? Pode. Ainda mais em se tratando de Trump, que, tudo indica, pretende levar a decisão para o tapetão em 3 de novembro, com um exército de advogados para contestar eventuais derrotas nos Estados. Mas os números, por enquanto, apontam para a vitória de Biden.